Evento da ONU sobre o clima busca equilibrar debates ambientais com falhas logísticas e obras inacabadas na cidade-sede
Canteiros de obras e falta de estrutura marcam a véspera da conferência
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) tem início nesta segunda-feira (10), em Belém (PA), cercada por expectativas quanto às discussões ambientais e críticas à infraestrutura que ainda apresenta falhas. O encontro global posiciona o Brasil no centro das negociações sobre transição energética e preservação ambiental, mas também evidencia atrasos e improvisos na preparação da cidade.
Na véspera da abertura, o cenário na capital paraense era de correria. Trabalhadores atuavam do lado de fora do pavilhão principal para tentar contornar os atrasos nas obras. O espaço destinado a delegações e jornalistas ainda apresentava falhas básicas, como banheiros sem água, odor de madeira recém-cortada e pontos de alimentação fechados.
Mesmo com investimentos emergenciais, as dificuldades estruturais se repetiam nas ruas de Belém. As intervenções de mobilidade, drenagem e revitalização urbana foram aceleradas nos últimos dias, e canteiros de obras ainda podiam ser vistos por toda a cidade, a poucas horas do início oficial do evento.
Organização tenta minimizar atrasos e garantir funcionamento
Durante a cúpula de líderes — realizada entre quinta (6) e sexta (7) como prévia da COP30 —, os desafios logísticos ficaram evidentes. A “pré-COP” reuniu representantes de mais de 140 países, incluindo chefes de Estado e de governo, e serviu como teste para a estrutura do evento.
O secretário da COP30, Valter Correia, afirmou que as intervenções na chamada Zona Azul, local das discussões principais, não seriam obras “estruturais”, mas ajustes “previstos” no planejamento.
“Sempre há um pequeno atraso, mas, para a cúpula dos líderes, está tudo funcionando”, declarou Correia. “Temos bastante prazo até lá e vamos entregar tudo dentro do previsto”, acrescentou.
Apesar das garantias, a corrida contra o tempo para entregar as instalações e assegurar o funcionamento adequado dos espaços ainda preocupa autoridades locais e organizadores.
Contradições na pauta climática e desafios políticos
Enquanto Belém tenta superar os entraves logísticos, o debate diplomático sobre o papel do Brasil na agenda ambiental global ganha força. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reforçado o discurso em favor de uma transição energética “justa e inclusiva”, cobrando que os países ricos cumpram os compromissos de financiamento climático firmados em acordos anteriores.
A fala de Lula, contudo, veio dias após o próprio governo defender a exploração de petróleo na Margem Equatorial — posição que gerou críticas e levantou acusações de contradição entre o discurso ambiental e a prática econômica do país.
A chamada transição energética consiste na substituição gradual de fontes fósseis, como o petróleo, por matrizes renováveis, a exemplo da solar, eólica e hídrica. O presidente argumenta que é possível conciliar a exploração de recursos naturais com políticas sustentáveis.
Segundo Lula, o Brasil “não tem medo de discutir a transição energética” e deve ter o direito de explorar suas riquezas enquanto investe em alternativas limpas. O petista também associou o debate climático a questões geopolíticas, ao citar emissões resultantes de conflitos como a guerra na Ucrânia, e cobrou ações mais concretas das nações desenvolvidas.



