Há dias em que o mais urgente não é cumprir tarefas, nem acelerar o passo,
mas simplesmente sentar-se em silêncio e, quem sabe, ousar uma conversa rara: aquela que travamos conosco.
Nem sempre é fácil.
Somos mestres em nos esquivar de nós mesmos, inventando mil urgências,
distraindo-nos com ruídos, com telas, com demandas que nos afastam do essencial.
Mas, de vez em quando, no intervalo entre um suspiro e outro, nasce uma chance: olhar-se por dentro, com a coragem de quem encara um espelho —
sem pressa.
Nesses momentos, talvez o melhor seja começar com um pedido singelo:
Que eu me permita — apenas isso.
Permitir olhar com mais ternura o que sou e o que ainda posso ser.
Permitir calar um pouco, para que os gestos falem.
Permitir chorar, mas que as lágrimas, ao menos algumas, sejam de contentamento — e não apenas de cansaço.
É curioso…
Passamos tanto tempo imaginando o olhar dos outros sobre nós:
— será admiração?
— será inveja?
E esquecemos de perguntar: e o meu olhar? Como me vejo? Como me acolho?
Se eu me permitisse, quem sabe, escutaria melhor o mundo ao redor:
o que é dito e o que não se diz; os sons que viraram paisagem e o silêncio que, na verdade, grita.
Talvez, então, eu entendesse: os sonhos não são apenas ideias vagas.
São sementes. Algumas brotam. Outras adormecem, esperando um tempo melhor. E há aquelas que morrem… porque nunca lhes dei espaço para crescer.
Gostaria de aprender a sonhar com menos medo, e a realizar com menos pressa.
Gostaria de trocar palavras vazias por toques sinceros, por olhares atentos,
por uma escuta plena.
E, no meio desse exercício, quem sabe descobrir: que o essencial não está no que conquisto, mas no que sou, no que sinto, no que me permito viver.
Às vezes, é preciso abraçar a própria solidão — não como castigo, mas como um tempo fértil, onde nascem as respostas que não ousamos perguntar.
Porque quem aprende a estar bem consigo jamais está verdadeiramente só, mesmo quando o mundo parece distante.
Quero, enfim, lembrar: que posso ser sereno dentro da minha própria turbulência, humilde diante das minhas grandezas tolas, e grato pelas lições da vida — nas flores que renascem, no frio que chega, no calor que aquece, no outro que parte, naquele que fica.
Que eu saiba amar, mesmo quando o amor não volta na mesma medida.
E que eu saiba, sobretudo, nunca me perder de mim.
Há quem pense que momentos assim são perda de tempo.
Eu diria: são, talvez, o tempo mais bem investido da vida.
