Governadores de sete unidades federativas anunciam aliança para fortalecer ações de segurança e contrapor proposta federal
Governadores firmam pacto regional
Após a operação policial que deixou ao menos 121 mortos em comunidades do Rio de Janeiro, sete governos estaduais anunciaram a criação de um “Consórcio da Paz”, iniciativa que prevê cooperação entre as forças de segurança para enfrentar o crime organizado. O acordo foi selado em reunião no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, em apoio ao governador Claudio Castro (PL-RJ), cuja gestão será responsável pela coordenação inicial da proposta.
A articulação reúne governadores politicamente alinhados à direita: Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. A meta, afirmam, é que todos os estados se integrem futuramente ao consórcio.
Segundo Castro, o bloco pretende intensificar “o enfrentamento ao crime organizado, ao tráfico de armas e à criminalidade que ultrapassa fronteiras”, com foco no compartilhamento de informações, estratégias e equipamentos.
Prioridade para ações e equipamentos
Os gestores afirmaram que o consórcio atuará por meio do intercâmbio de inteligência, apoio financeiro, mobilização de efetivos policiais e aquisição conjunta de recursos tecnológicos. Contudo, ainda não há definição sobre a estrutura operacional que dará sustentação ao acordo.
Em discurso marcado por acenos políticos, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu mudanças legislativas que incluam a classificação de facções como grupos terroristas, endurecendo penas. Ele também colocou equipamentos paulistas como drones e helicópteros à disposição do Rio.
Outras propostas discutidas no encontro incluem o aumento de penas por homicídios contra agentes do Estado e punições mais rígidas para empresas emissoras de notas fiscais falsas e envolvidas em sonegação. Em março, governadores do Sul e Sudeste já haviam firmado um pacto semelhante para criar um gabinete conjunto de inteligência.
Elogios à Operação Contenção
Sob críticas de entidades e representantes do sistema de Justiça, Castro classificou como bem-sucedida a Operação Contenção, realizada na terça-feira (27/10) nas comunidades do Alemão e da Penha. Ele recebeu apoio público dos aliados, que exaltaram o resultado da ação apesar da alta letalidade.
Tarcísio afirmou que a operação foi conduzida “com muita excelência”, enquanto Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, disse que ela representa “exemplo para o país”. Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, declarou que o episódio deve ser considerado “a mais bem-sucedida” operação recente, e não a mais letal.
A Defensoria Pública do Rio estima que o total de mortos pode chegar a 132, entre eles quatro policiais. A ONU manifestou preocupação com a escalada de violência e pediu investigação independente, ressaltando que as ações impactam desproporcionalmente pessoas negras nas comunidades.
Três dos governadores envolvidos – Tarcísio, Caiado e Zema – são apontados como possíveis candidatos à Presidência em 2026 contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Disputa com o governo federal pela condução da segurança
A criação do consórcio surge em meio ao debate sobre a Proposta de Emenda Constitucional da Segurança Pública, apresentada pelo governo federal ao Congresso. O texto prevê integração das políticas de segurança entre municípios, estados e União, com diretrizes nacionais e padronização de dados, inspirado no modelo do SUS.
Os estados criticam a iniciativa sob alegação de perda de autonomia, argumento rebatido pelo Palácio do Planalto. “O único objetivo do governo federal é tirar dos governadores as diretrizes gerais da segurança pública”, afirmou Caiado durante o evento.
Paralelamente, o Ministério da Justiça anunciou a instalação de um escritório emergencial no Rio para combater o crime organizado, com participação da Polícia Federal. De acordo com o ministro Ricardo Lewandowski, que visitou a capital após a operação, a iniciativa é um “embrião” do modelo proposto pela PEC e pretende agilizar ações conjuntas e reduzir entraves burocráticos entre as forças federais e estaduais.



