A cerimônia foi marcada por indignação diante da violência que tirou sua vida.
Amigos e familiares do arquiteto Jefferson Dias Aguiar, 43, reuniram-se na manhã desta quinta-feira (4) para o seu sepultamento no cemitério Parque dos Ipês, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Jefferson foi morto com um tiro no pescoço na última terça-feira (1º), no bairro do Butantã, zona oeste da capital, logo após atropelar um homem suspeito de roubar uma mulher nas proximidades. Segundo testemunhas e imagens de câmeras de segurança, o arquiteto teria usado seu carro para impedir a fuga do assaltante, que estava de moto. Após a colisão, o criminoso reagiu com um disparo fatal e fugiu do local.
Durante o velório, o sentimento de revolta se manifestou nas falas de parentes. “Ninguém faz nada. Ninguém tá nem aí com nada”, desabafou o tio da vítima, Jucier de Aguiar, 60. Ele destacou o senso de justiça do sobrinho: “Daqui a dois meses, esses responsáveis estão na rua de novo. Eles têm proteção. Sabe quem não tem? Nós. No dia que pararmos de votar em bandido, vamos evoluir em alguma coisa.”
Manoel Messias, primo de Jefferson, afirmou buscar justiça da mesma forma que lutou após o assassinato do pai do arquiteto, morto com três tiros dentro de seu comércio quando Jefferson tinha apenas sete anos. “Estamos atrás de justiça com esse grande sofrimento. Não é brincadeira uma coisa dessa, mas nossa Justiça não combate a violência”, disse, esperançoso de que os suspeitos sejam detidos.
O motoboy César, que pediu para não ter o sobrenome divulgado, resumiu a dor dos presentes: “A mãe vai ter que enterrar o próprio filho e os responsáveis estão impunes.”
Jefferson era casado havia um ano e havia se mudado recentemente para uma casa maior com a esposa, com o plano de formar uma família. “Nunca imaginava que isso aconteceria, ele sempre me ajudava”, contou o amigo de infância Sidney da Fonseca. “Ele tinha sonho de ser pai.”
O arquiteto Júlio Beraldo, 41, conheceu Jefferson em uma viagem à Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e destacou que, além da profissão, os dois compartilhavam o gosto por pedalar. “Foi um choque, nunca estamos preparados para isso. Está complicado, virou uma coisa banal a morte.”
O crime
O caso ocorreu na rua Desembargador Armando Fairbanks, no Butantã. Jefferson estava em um carro com um colega de trabalho quando avistou o assalto. Segundo relatos, ele acelerou o veículo na direção do suspeito, que fugia pela calçada, e conseguiu atingi-lo, derrubando-o da moto.
Um vídeo mostra que, ao sair do carro, Jefferson é surpreendido com um disparo feito pelo criminoso, que se levanta rapidamente após a queda. O arquiteto morreu no local. A moto utilizada na fuga foi abandonada, e o autor do disparo fugiu a pé.
A Polícia Civil afirma que os suspeitos já foram identificados, mas até a publicação desta reportagem, ainda não haviam sido presos. O caso levanta discussões sobre segurança pública, legítima defesa e a atuação da Justiça diante de crimes violentos. Para saber mais sobre o tema, acesse: Como funciona a legítima defesa no Código Penal.