Eleição opõe direita mais radical desde o fim da ditadura e candidatura comunista moderada; voto é obrigatório e mais de 15 milhões estão aptos a participar
Os eleitores chilenos voltam às urnas neste domingo (14) para definir o próximo presidente do país em uma disputa que escancara a divisão política nacional. O segundo turno coloca frente a frente o candidato mais identificado com a direita dura desde o encerramento do regime militar, há 35 anos, e uma comunista de perfil moderado que lidera uma ampla coalizão de esquerda.
Eleitorado mobilizado e votação obrigatória
Ao todo, 3.379 seções eleitorais foram abertas, com 40.473 mesas de votação distribuídas em todo o território chileno. O pleito definirá o sucessor do atual presidente, Gabriel Boric. Estão aptos a votar mais de 15,6 milhões de eleitores, em um sistema no qual o comparecimento às urnas é obrigatório.
A disputa é entre Jeannette Jara, de 51 anos, única candidata de uma inédita aliança progressista que vai do Partido Comunista à Democracia Cristã, e José Antonio Kast, de 59 anos, fundador do Partido Republicano e principal nome da extrema direita chilena.
Favoritismo da direita nas pesquisas
Levantamentos divulgados antes do início do período de silêncio eleitoral apontam Kast como favorito. Analistas avaliam que a principal incerteza do segundo turno não está no resultado, mas na margem de vitória do candidato republicano.
No primeiro turno, Kast ficou em segundo lugar, com 23,9% dos votos. Desde então, consolidou apoios importantes, incluindo o do libertário Johannes Kaiser e da ex-prefeita Evelyn Matthei, representante da direita tradicional, o que elevou sua projeção para mais de metade do eleitorado.
Jara liderou o primeiro turno, com 26,9%, mas enfrenta dificuldades para ampliar sua base, apesar de reunir o apoio formal de praticamente todo o espectro progressista.
Agenda conservadora e referências ao período Pinochet
Católico ultraconservador e pai de nove filhos, Kast pode se tornar o primeiro presidente chileno a chegar ao poder após defender publicamente a continuidade do regime de Augusto Pinochet (1973–1990) durante o plebiscito de 1988. Seu irmão ocupou cargo de destaque no governo militar.
Na campanha, o ex-congressista concentrou seu discurso em segurança pública e imigração, temas apontados como prioritários pelo eleitorado. Ele promete deportar cerca de 340 mil imigrantes em situação irregular, em sua maioria venezuelanos, e adotar uma política de combate rigoroso ao crime.
Apesar de o Chile figurar entre os países mais seguros da região, Kast tem retratado o país como dominado pelo narcotráfico, rompendo com a narrativa do chamado “milagre econômico” chileno. O candidato evitou detalhar como pretende reduzir cerca de US$ 6 bilhões em gastos públicos nos primeiros 18 meses de governo e não esclareceu sua posição sobre eventuais benefícios a militares condenados por crimes cometidos durante a ditadura.
Estratégia de distanciamento do governo Boric
Jeannette Jara, por sua vez, buscou se desvincular da impopularidade da atual administração e enfrentou o forte sentimento anticomunista ainda presente na sociedade chilena. Durante a campanha, alertou para os riscos do avanço da extrema direita e destacou seu papel na articulação de medidas consideradas emblemáticas, como o reajuste do salário mínimo, a reforma previdenciária e a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas.
Congresso fragmentado e governabilidade em jogo
O presidente eleito, que tomará posse em 11 de março, encontrará um Congresso dividido. O bloco formado por direita e extrema direita está a apenas duas cadeiras da maioria, o que torna decisivo o posicionamento do Partido da Gente (PDG), de perfil populista.
Desde 2006, o Chile vive uma alternância contínua de poder entre esquerda e direita, sem que um presidente consiga eleger um sucessor da mesma corrente política.
As urnas permanecem abertas até as 18h no horário local (18h em Brasília), e a apuração deve começar logo após o encerramento da votação, com os primeiros resultados previstos para as horas seguintes.



