Pesquisas recentes destacam avanços significativos no uso de células-tronco para tratar diferentes formas de cegueira, trazendo esperança para pacientes de todas as idades. A cegueira pode ser causada por diversas condições, como a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e a deficiência visual cerebral (CVI), ambas com características distintas e desafiadoras. Cientistas têm concentrado esforços em compreender melhor essas condições e desenvolver terapias mais eficazes.
Degeneração macular e células-tronco
A DMRI é uma das principais causas de perda irreversível de visão em adultos mais velhos. Um estudo publicado na revista Developmental Cell investigou os mecanismos que levam à progressão da doença. A pesquisa utilizou células-tronco humanas para modelar a DMRI e descobriu que a proteína TIMP3, presente em excesso nos pacientes, bloqueia substâncias essenciais para a saúde ocular. Isso desencadeia um processo inflamatório que resulta na formação de depósitos chamados drusas, um sinal precoce da doença.
Com o uso de um inibidor molecular, os cientistas conseguiram reduzir a formação de drusas em modelos animais. “Ao interromper o acúmulo das drusas, podemos evitar que a doença atinja estágios mais graves, que levam à perda de visão”, explicou Ruchira Singh, cientista da Universidade de Rochester.
Segundo o oftalmologista Rafael Yamamoto, a pesquisa representa um avanço significativo. “O foco na proteína TIMP3 abre possibilidades para tratamentos que possam interromper o processo inflamatório antes que danos irreversíveis ocorram”, afirmou.
Outro estudo, liderado por uma equipe da Universidade de Montreal, conseguiu recuperar a visão de miniporcos utilizando transplantes de retina derivados de células-tronco pluripotentes induzidas humanas (iPSCs). As células foram cultivadas para imitar a retina humana e, após o transplante, integraram-se com sucesso ao tecido danificado dos animais. “A técnica poderá gerar grandes quantidades de tecido retinal para transplantes em humanos”, destacou o professor Gilbert Bernier, responsável pela pesquisa.
Deficiência visual cerebral (CVI) em crianças
Outro desafio significativo é a deficiência visual cerebral (CVI), que afeta crianças e resulta de anomalias no desenvolvimento das vias de processamento visual. Diferentemente da cegueira cortical em adultos, crianças com CVI mantêm alguma capacidade visual, que pode melhorar devido à neuroplasticidade.
Pesquisadores do Children’s Hospital Los Angeles sugerem que a CVI seja classificada como um transtorno do neurodesenvolvimento. “A detecção precoce é essencial para intervenções eficazes, pois a deficiência visual na infância está associada a dificuldades de aprendizagem e relacionamentos sociais”, explicou Melinda Chang, principal autora do estudo publicado na revista Ophthalmology.
De acordo com o oftalmologista Júlio Lins, o diagnóstico da CVI é desafiador, especialmente nos primeiros anos de vida. “Recomendamos consultas oftalmológicas regulares desde os seis meses de idade, pois o diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de tratamento e estimulação visual”, ressaltou.
Outras descobertas e hábitos saudáveis
Estudos também destacam o papel da nutrição na saúde ocular. Cientistas da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, descobriram que o consumo diário de 57 gramas de pistache pode melhorar a densidade óptica do pigmento macular (MPOD), fator importante para a proteção contra a luz azul e danos causados pelo envelhecimento. Essa prática pode reduzir o risco de desenvolver a DMRI, especialmente em idosos.
Da Redação/Click News/Correio Braziliense