Vicente, de 98 anos, e Cylma, de 91, viveram 74 anos juntos e partiram em Patrocínio sem saber da morte um do outro, em uma história de amor e companheirismo marcante
Em uma rara e comovente coincidência, Vicente de Paula Arantes, 98 anos, e Cylma Silva da Boaviagem, 91, faleceram no mesmo dia, uma terça-feira, em Patrocínio, no Triângulo Mineiro. O casal, que conviveu por 74 anos e foi casado por 67, partiu sem que um soubesse da morte do outro. Cylma foi a primeira a falecer, e a notícia não foi comunicada a Vicente, que estava internado na UTI após quebrar o braço. A família, no entanto, acredita em uma conexão profunda entre os dois.
“Eles sabiam o que estavam fazendo, sabiam o que estava acontecendo”, afirmou um dos filhos, que vê na simultaneidade das mortes a prova de que “estavam sempre juntos”.
Uma vida de amor e companheirismo incondicional
Vicente de Paula Arantes Junior, o primogênito do casal, de 66 anos, expressou seu carinho ao Terra: “Eu falo que ela estava esperando ele, batendo o pé lá. E ela falou assim: ‘Você não vai ficar, você vai comigo. E ele foi. Ele era bem obediente..”. Junior e seu irmão, Claudio, de 63 anos, são filhos de Vicente e Cylma, que juntos tiveram seis netos e um bisneto.
O filho mais velho descreveu a relação dos pais como um exemplo raro nos dias de hoje. “O amor dos dois, a relação deles, a convivência do dia a dia, o respeito de um pelo outro… são coisas que a gente não vê hoje em dia em mais lugar nenhum no mundo”, ressaltou.
Vicente e Cylma residiam em Patrocínio, cidade natal de Vicente, enquanto Cylma era natural de Itabirito, também em Minas Gerais. Ele construiu carreira como advogado, e ela se dedicou aos cuidados da casa e à atuação social na comunidade, sendo reconhecida por seu trabalho. “Ela era incansável”, pontuou Junior.

Foto: Arquivo pessoal/Vicente de Paula Arantes Junior
A inseparabilidade do casal era notória. “Todo mundo conhecia os dois. Sempre companheiro um do outro. Era aquela coisa, onde um estava, o outro estava. Não andavam separados, era sempre juntos. E até agora, no finalzinho, eles ficavam sentados aqui em casa um de mão dada com o outro. O tempo inteiro que estavam juntos”, relatou o filho.
Junior relembrou um momento desafiador nos últimos dias de sua mãe em casa, quando foi necessário contratar uma cuidadora e transferi-la do quarto que compartilhava com o marido. “Foi uma luta, porque ele [Vicente] não admitia, sob hipótese alguma, dormir separado dela. Foi uma peleja, mas ele acabou aceitando.”
Despedida e legado de ensinamentos
Apesar da dor da perda, Junior encontrou tranquilidade na partida dos pais, acreditando ter feito tudo o que estava ao seu alcance. Ele compartilhou um pedido de sua mãe: “Ela falava: ‘Reza pra que eu vá logo’”, disse sua mãe a ele, já doente. “Foi uma orientação que eu segui e achei que eu fiz o melhor que eu tinha que fazer, dar para ela o conforto e rezar para que Deus desse uma hora boa para ela.”
O que permanece agora são os ensinamentos e as inúmeras memórias felizes. “Eles tiveram uma vida boa, uma vida bonita. Foi uma coisa linda que aconteceu. A gente sabe que é uma coisa divina, porque não pode ser algo planejado como se fosse uma coisa corriqueira, sabe? Não. É uma coisa que a gente ainda não consegue entender. Mas dá pra imaginar. E é muito bom. Eu fico muito feliz de fazer parte dessa história”, concluiu o filho mais velho.

Foto: Arquivo pessoal/Vicente de Paula Arantes Junior (Fonte: Terra.com)