Patriarca latino de Jerusalém, Pizzaballa é um dos favoritos ao papado, mas sua idade relativamente baixa pode ser um entrave na escolha.
O cardeal italiano Pierbattista Pizzaballa, considerado um dos nomes fortes para suceder o papa Francisco, tornou-se internacionalmente conhecido após oferecer-se como refém ao Hamas, dias após o ataque promovido pela facção no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023. A proposta visava libertar crianças sequestradas durante a ofensiva. Aos 60 anos, o religioso lidera a Igreja Católica no Oriente Médio e tem trajetória marcada pelo diálogo inter-religioso.
Atual patriarca latino de Jerusalém, Pizzaballa é conhecido por manter canais abertos com representantes das três grandes religiões monoteístas — cristianismo, judaísmo e islamismo. Com críticas públicas à guerra entre Israel e Hamas, o cardeal ganhou destaque ao defender soluções pacíficas e denunciar a crise humanitária na Faixa de Gaza, linha coerente com os posicionamentos adotados por Francisco ao longo de seu pontificado.
O cardeal assinou uma declaração que condenou os ataques contra civis e o bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza, o que gerou reações negativas de setores do governo israelense. Em resposta, negou alinhamento com o Hamas e qualificou os atos do grupo como “barbárie inaceitável” e incompreensível.
Natural da região de Bérgamo, no norte da Itália, Pizzaballa demonstrou interesse pela vida religiosa ainda na infância, aos nove anos. Apesar de sonhar inicialmente com uma missão na China — influenciado por relatos de missionários expulsos durante o regime de Mao Tse-tung —, seu destino foi o Oriente Médio.
Enviado a Jerusalém em 1990, quando tinha 25 anos, enfrentou desde o início uma realidade marcada por tensão e violência. “Cheguei na noite do dia 7 de outubro e, no dia seguinte, no bairro onde eu estava, houve um confronto entre militares israelenses e palestinos que resultou em 22 mortes”, relatou, em entrevista ao site The College of Cardinals Report, do vaticanista Edward Pentin.
“Eu não falava os idiomas e não entendia toda a violência, que para mim era muito estranha. Havia toques de recolher em todas as partes. Não foi simples, mas foi salutar, no sentido de que me forçou a encontrar as razões profundas e reais de minha vocação e da minha obediência”, completou.
Pizzaballa foi o único cristão de sua turma no curso de Escrituras da Universidade Hebraica, onde construiu relações com colegas judeus. Com o tempo, adaptou-se ao cotidiano local, tornando-se custódio da Terra Santa — responsável por conservar os locais sagrados do cristianismo.
Com profundo conhecimento dos conflitos regionais, participou do Sínodo dos Bispos sobre o Oriente Médio em 2010. Quatro anos depois, foi uma das figuras centrais no encontro promovido pelo Vaticano entre o papa Francisco, o então presidente de Israel, Shimon Peres, e o líder palestino Mahmoud Abbas.
Segundo ele, o diálogo entre religiões ainda enfrenta muitos obstáculos. “Mesmo em nível institucional, temos dificuldade de conversar uns com os outros”, observou, ao defender mais encontros e trocas entre cristãos, judeus e muçulmanos.
Em 2023, meses antes do agravamento do conflito entre Israel e Hamas, Francisco o nomeou cardeal. Durante a guerra, ele continuou presente junto à reduzida comunidade cristã da Faixa de Gaza, celebrando missas e coordenando ações humanitárias com envio de alimentos e medicamentos.
Apesar de despontar como um dos nomes cogitados para o papado, sua idade relativamente baixa — é o segundo mais jovem entre os cardeais votantes — é apontada como possível obstáculo. Além disso, Pizzaballa ocupa o atual cargo há pouco tempo e ainda não deixou claros seus posicionamentos sobre temas sensíveis à Igreja, como a bênção de casais do mesmo sexo e a comunhão para divorciados recasados.
Ainda assim, sua escolha representaria um gesto simbólico importante no contexto do atual conflito no Oriente Médio. “Não sei quando ou como essa guerra terminará. Toda vez que nos aproximamos do fim, parece que estamos começando do zero. Mas, cedo ou tarde, vai acabar”, disse, durante celebração na Paróquia Sagrada, em Gaza. “Reconstruiremos tudo: escolas, hospitais e casas. Nunca os abandonaremos.”
Formado em filosofia e teologia, Pizzaballa fala quatro idiomas: italiano, hebraico, árabe e inglês.