Indicado ao STF por Lula, advogado-geral da União encontra oposição dispersa e votos indefinidos
Rejeição silenciosa nos corredores do Senado
Nos bastidores do Senado, a indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) é recebida com evidente desconforto. Embora tenha sido escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado-geral da União encontra resistência significativa entre os parlamentares, que evitam manifestar apoio público.
Messias precisa obter 14 votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), composta por 27 membros, para avançar à etapa seguinte. Em seguida, seu nome dependerá de 41 votos no plenário. Às vésperas da sabatina, marcada para o dia 10, o indicado intensifica visitas individuais a senadores na tentativa de reverter o cenário desfavorável.
Voto secreto reforça cautela entre parlamentares
Como a votação é secreta, muitos senadores preferem não antecipar suas posições. Ainda assim, nos diálogos informais, a tendência observada é contrária aos interesses do governo.
“Não está fácil, mas vai depender muito das conversas”, afirma o líder da oposição no Congresso, Izalci Lucas (União-DF). Segundo ele, não é possível prever se Messias conseguirá aprovação na CCJ e no plenário, mas há um “problema” na forma como o governo escolhe seus indicados, considerados por ele como demasiadamente subordinados ao Executivo.
Questionado sobre o desfecho da votação, Izalci reforça: “O voto é secreto”.
Bancada evangélica mantém distância
O discurso é semelhante ao do senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da Frente Parlamentar Evangélica. “Por ser uma votação secreta, é muito difícil uma avaliação final”, afirma.
Viana destaca ainda que a situação de Messias se complica em meio às tensões em torno das emendas parlamentares. Desde o fim de 2024, o STF determinou maior transparência nessas transferências. As ações, relatadas pelo ministro Flávio Dino, são acompanhadas pela Advocacia-Geral da União, o que tem acirrado a disputa entre Legislativo e Judiciário.
“Jorge Messias é uma pessoa que, entre os parlamentares, tem uma posição que pode ampliar o conflito com relação às emendas parlamentares, iniciadas de uma forma, a meu ver, indevida pelo ministro Dino”, afirma Viana.
Bancada ainda não decidiu se ouvirá Messias
Assim como Messias, Carlos Viana também é evangélico e, por essa aproximação, foi procurado pelo advogado-geral da União para facilitar um encontro com a bancada. O senador, no entanto, relata dificuldades.
“Primeiro, eu estou ouvindo os senadores, estou conversando com um por um deles para saber quais estão dispostos a participar. Até o momento, a maior parte não quer. Duvido muito que um encontro que possa acontecer vá mudar a decisão de voto de cada um dos senadores”, comenta.
Embora a conversa entre ambos ainda não tenha ocorrido presencialmente — limitando-se a telefonemas —, Viana afirma que Messias segue tentando abrir portas. “Há uma dificuldade muito grande de convencimento dos parlamentares, mas, até o dia da votação, ele [Messias] terá o tempo necessário para conversar com todos”, conclui.



