“A Polícia Civil de Goiás prendeu uma quadrilha de traficantes responsável por cinco dos treze assassinatos registrados na cidade de Trindade, no último ano. Mas o líder do grupo fugiu para o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro e está protegido por uma facção criminosa aliada. Nossa polícia está de mãos atadas por causa dessa ADPF 635, que impede a polícia de entrar nas favelas. Os bandidos estão em uma zona de livre mercado pra poder circular sem ninguém incomodar”, declarou Caiado.
Segundo o governador, regras da ADPF nº 635, chamada de “ADPF das Favelas”, dificultam a prisão de traficante goiano foragido no Rio de Janeiro
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), utilizou suas redes sociais nesta quinta-feira (22) para criticar a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 635. De acordo com ele, a normativa compromete operações da Polícia Civil de Goiás, especialmente no caso de um traficante foragido no estado do Rio de Janeiro.
“A Polícia Civil de Goiás prendeu uma quadrilha de traficantes responsável por cinco dos treze assassinatos registrados na cidade de Trindade, no último ano. Mas o líder do grupo fugiu para o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro e está protegido por uma facção criminosa aliada. Nossa polícia está de mãos atadas por causa dessa ADPF 635, que impede a polícia de entrar nas favelas. Os bandidos estão em uma zona de livre mercado pra poder circular sem ninguém incomodar”, declarou Caiado.
A fala do governador ocorre no contexto da Operação Hidra, deflagrada nesta semana pelo Grupo de Repressão a Narcóticos (Genarc) de Trindade, vinculado à 16ª Delegacia Regional de Polícia (DRP). A ação resultou na prisão de 19 suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas no município. Conforme as investigações, a organização criminosa teria movimentado quase R$ 1 milhão em oito meses e está ligada a, pelo menos, cinco homicídios registrados em 2024.
Segundo o delegado Douglas Pedrosa, titular do Genarc, o principal líder da organização é Thiago Júlio Vitorino dos Santos, de 27 anos, conhecido como “Montanha”. Ele estaria escondido no Complexo do Alemão, na capital fluminense, onde recebe proteção da facção Comando Vermelho. Embora a localização do suspeito já seja conhecida pelas autoridades, as restrições legais têm dificultado sua captura.
“A favela carioca virou hotel para traficantes. Lá eles têm a proteção do Comando Vermelho e da geografia local. Infelizmente é uma situação com que a gente se deparou nesse caso, mas não foi a primeira. Temos, pelo menos, outros três traficantes escondidos no Rio de Janeiro de onde eles executam suas ordens para matar, extorquir pai de família e traficar drogas”,afirmou Pedrosa. Ele acrescentou: “É uma realidade triste saber que a Polícia Civil do Rio de Janeiro, mesmo querendo nos ajudar, não pode porque, simplesmente, tem o poder limitante do STF”.
O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Ganga, destacou a frequência de ações interestaduais para capturar criminosos que deixam Goiás após cometerem delitos. “Nós tivemos, em 2024, 151 operações fora do estado de Goiás na busca de criminosos que cometeram crimes aqui no solo goiano. Dessas 151 operações, 454 foram presos fora do estado de Goiás e somente no Rio de Janeiro foram 78 presos”, detalhou.
O que é a ADPF nº 635
Popularmente conhecida como “ADPF das Favelas”, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635 foi protocolada no STF pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em novembro de 2019, sob a liderança do então deputado federal Alessandro Molon. A iniciativa contou com apoio de entidades de defesa dos direitos humanos e movimentos sociais.
O objetivo central da ação é reduzir a letalidade policial em comunidades do Rio de Janeiro, impondo uma série de restrições às operações das forças de segurança. Entre as exigências previstas estão: necessidade de justificativa prévia para a realização das operações, obrigatoriedade da presença do Ministério Público, registro detalhado das ações e proibição do uso de helicópteros como plataforma de tiro.
Críticos da medida, como o governador Caiado, avaliam que tais restrições acabam favorecendo organizações criminosas. “Esse é o resultado que nós estamos assistindo neste momento da política de leniência e acovardamento do governo federal que, a cada dia, cede mais espaço para as facções criminosas em nosso país. E quem sofre é o povo de bem que só quer viver em paz, inclusive, quem vive nessas comunidades. Qualquer política de segurança precisa de respaldo dos governos para ser eficaz. E, se querem acabar com o crime organizado, tem que valer em todo o Brasil”, afirmou o governador.
Atuação criminosa em Trindade
As investigações da Polícia Civil revelaram que a organização criminosa alvo da Operação Hidra mantinha o controle do tráfico de drogas nos bairros Vida Nova e Residencial Santa Fé, em Trindade. Além de ser apontada como responsável por cinco dos treze homicídios ocorridos no município no último ano, a quadrilha é acusada de aterrorizar a população local, com ameaças a moradores e desafetos.
Além de Thiago “Montanha”, considerado o principal articulador do grupo, sua namorada e outro integrante da organização também são apontados como foragidos.
