Governador de Goiás diz à Folha que não vai esperar por Bolsonaro para lançar candidatura e rodar o Nordeste
Prestes a oficializar sua pré-candidatura à Presidência da República em 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), intensifica sua articulação nacional com foco na segurança pública e adota um discurso contundente contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Caiado criticou a recente nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais e reagiu às declarações da presidente do PT, que havia cobrado dos governadores um reconhecimento público à renegociação das dívidas estaduais promovida pelo governo federal. O governador goiano também ironizou uma fala recente de Lula sobre crimes patrimoniais e acusou o governo de negligência no enfrentamento ao narcotráfico.
“Não é só uma República de roubo de celular. A verdade é que ele tem que entender que ele hoje está patrocinando a transição do Brasil de um Estado democrático para um Estado do narcotráfico”, afirmou Caiado.
O lançamento da pré-candidatura está previsto para esta sexta-feira (4). Segundo o governador, a decisão não está vinculada ao futuro político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu em ações que tramitam no STF. “Não tem essa condicionante. Nunca teve”, declarou.
Caiado disse que, a partir da próxima semana, iniciará uma agenda de viagens pelo Nordeste, começando pela Bahia. “Como sou de um estado bem avaliado, mas que só tem 5 milhões de eleitores, tenho que caminhar. A única coisa que me cobram é que eu não sou conhecido.”
Questionado sobre eventual aval de Bolsonaro ou articulações partidárias envolvendo União Brasil e PP, Caiado afirmou que tomou a decisão após diálogo interno e que não vê sentido na criação de uma federação entre as legendas. “Seria um casamento sem divórcio pelos próximos quatro anos”, ironizou.
Em relação à segurança pública, tema central de sua plataforma, Caiado defendeu o modelo adotado em Goiás e criticou propostas que tomam como referência o endurecimento penal de países como El Salvador. “Tem que se espelhar no modelo de Goiás”, disse.
Ele acusou o governo federal de fomentar invasões de terra e de ser complacente com a criminalidade. “É um momento em que o governo federal estimula, fomenta, motiva esse processo de invasão e que as nossas polícias estão preparadas para fazer com que o campo viva em paz”, declarou.
Ao comentar a nomeação de Gleisi para a articulação política, Caiado avaliou que Lula “voltou às origens” e abandonou qualquer tentativa de diálogo com o centro político. “Qualquer político que entende que pingo é letra sabe qual é a posição que ele vai tomar a partir de agora”, afirmou. “Ele vai cada vez mais endurecer nessa linha, tentar voltar às suas origens e potencializar nessa estruturação de ministério os, como eles dizem lá, companheiros.”
Sobre as críticas da presidente do PT, que o incluiu entre os governadores beneficiados pela renegociação das dívidas estaduais, Caiado foi categórico: “Ela não pode cobrar por algo que não aconteceu. [É] a viúva Porcina que foi sem ter sido.”
Ele também acusou o governo federal de retaliação política. “Onde as privatizações das rodovias estão sendo feitas, excluíram as de Goiás”, disse. “As ações do governo são direcionadas não com um viés técnico, mas muito mais de retaliação a um governo que está dando certo.”
Caiado rebateu ainda a declaração do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, de que a polícia prende mal e a Justiça solta por obrigação: “É o que ele pensa”, disse, antes de completar: “Eu penso o contrário.”
Sobre Lula, o governador questionou a coerência do presidente ao tratar do tema da criminalidade. “Mas qual é o Lula aqui? O que diz que estavam sendo extremamente agressivos com aquele jovem roubando o celular ou esse de agora?”
Na avaliação de Caiado, o governo federal é conivente com o avanço das facções. “É de um grau do território nacional ocupado pelas facções, do avanço sobre todo o setor econômico do país, destruindo as empresas, ameaçando as pessoas”, afirmou. “Hoje a droga está sendo um souvenir deles. Em vez de dizer que é só o ladrão de celular, devia entender que estão hoje tomando todo o comando federal.”
Ele foi além: “Tem um patrocínio porque é a conduta do PT. Eles são complacentes com o crime. Isso faz parte do eleitorado deles. Esse é o habitat deles. Então eles não vão negar isso agora. Eles são prisioneiros dessa engrenagem, conviveram com ela e participam dela.”
Em tom cordial, Caiado relatou ter conversado recentemente com Bolsonaro, que agradeceu por sua defesa da anistia a presos pelos atos de 8 de janeiro. “Ele disse: ‘Governador, vi uma entrevista sua na CNN, você falando sobre anistia e estou ligando para agradecer pela sua posição.’ Eu disse: ‘Presidente, essa é uma posição minha desde fevereiro de 2024.’ ‘Muito obrigado.’ ‘Até mais.’ ‘Tchau.’”
( Com Folhapress)