A medida, que afeta exportações brasileiras, entra em vigor em agosto. O Brasil considera opções de retaliação, mas sem prejudicar a economia nacional.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva está em contagem regressiva para o início de agosto, data em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, implementará uma sobretaxa de 50% sobre as exportações de produtos brasileiros. Anunciada por Trump em uma carta oficial ao presidente Lula na quarta-feira, a medida, que visa atingir todos os produtos exportados pelo Brasil, entra em vigor no próximo mês. A medida gerou pressões no governo brasileiro, que, conforme descrito por uma autoridade, está “correndo contra o relógio” para definir uma estratégia de resposta.
Trump justificou a imposição da sobretaxa com questões políticas internas, mencionando o tratamento dado pelo sistema judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às empresas de tecnologia dos Estados Unidos. A ação, embora agressiva, deixou o governo brasileiro em alerta, sem uma decisão final sobre como reagir.
Retaliação e alternativas no radar
De acordo com auxiliares do presidente Lula, a retaliação contra os Estados Unidos é uma possibilidade, mas qualquer ação será cuidadosamente calculada para não prejudicar a economia e a indústria nacional. Entre as medidas que podem ser adotadas, estão o aumento das tarifas de importação de produtos americanos, a revogação de patentes de medicamentos e a elevação da tributação sobre produtos culturais, como filmes, livros e outros bens relacionados ao direito autoral.
Além disso, o governo brasileiro se preocupa com o impacto nas negociações em curso, particularmente aquelas envolvendo o Escritório de Comércio da Casa Branca. Autoridades brasileiras têm mostrado preocupação de que a postura de Trump possa afetar um acordo que, até março deste ano, estava sendo negociado para proteger as exportações brasileiras das políticas protecionistas.
Mercosul e a OMC: novas frentes de negociação
O Brasil, atualmente presidindo o Mercosul, busca acelerar a assinatura de acordos comerciais com parceiros internacionais até o final de 2025. Entre as negociações mais significativas estão os tratados com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que, segundo fontes, são vistos como alternativas ao endurecimento das relações comerciais com os Estados Unidos.
Outro caminho discutido pelo governo é recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). No entanto, a estratégia encontra obstáculos devido à paralisia do Órgão de Apelação da OMC, que impede a finalização de processos de recursos. A saída para a atual crise, no entanto, permanece incerta.
Desentendimentos diplomáticos e tensões internas
Na tarde de quarta-feira (9), uma reunião emergencial foi convocada no Palácio do Planalto para discutir os próximos passos da estratégia diplomática. A principal decisão foi convocar, pela segunda vez no dia, o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar. A secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty, Maria Luísa Escorel, devolveu a carta de Trump a Escobar, alegando que o conteúdo da correspondência era “ofensivo” e continha informações incorretas, como a menção a um superávit comercial inexistente entre os dois países.
Embora ainda não tenha sido tomada uma decisão definitiva sobre a convocação de volta da embaixadora Maria Luiza Viotti, uma coisa está clara: o governo brasileiro não negociará questões relacionadas ao processo judicial que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O futuro de Bolsonaro e o impacto político
Jair Bolsonaro, aliado político de Trump e réu em um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), continua sendo uma figura central nas tensões entre Brasil e EUA. O ex-presidente é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado, culminando nos atos de 8 de janeiro, e a expectativa é que ele, junto a outros envolvidos, seja julgado até setembro deste ano. Esse cenário pode continuar a afetar as relações bilaterais, à medida que o Brasil busca equilibrar sua diplomacia e seus interesses econômicos em meio a uma política externa cada vez mais complexa.