O Brasil se prepara para o impacto das novas tarifas, com foco nas negociações bilaterais e possíveis retaliações
A partir de 1º de agosto, os Estados Unidos devem aplicar uma sobretaxa de 50% sobre as importações brasileiras, conforme anunciado pela Casa Branca. Este aumento significativo nas tarifas de importação, que coloca o Brasil como o país mais afetado, gerou reações tanto do governo federal quanto do setor privado. A expectativa é de que a medida entre em vigor, embora ainda haja especulações sobre uma possível renegociação dos termos.
Negociações em andamento
O adiamento da implementação das tarifas, para permitir novas negociações entre os dois países, parece cada vez mais improvável. A aproximação da data de implementação, com apenas nove dias de antecedência, dificulta o cenário de um acordo de última hora. Em resposta à situação, autoridades brasileiras cogitam o envio de uma missão oficial a Washington, incluindo representantes do Executivo, com o objetivo de tentar destravar as conversas. No entanto, ainda não foi tomada uma decisão final sobre essa iniciativa.
Os negociadores brasileiros mantêm contatos informais com os Estados Unidos, mas a resposta à carta enviada em 16 de maio deste ano ainda está pendente. A correspondência solicitava a abertura de negociações bilaterais, com base em uma lista de produtos brasileiros que poderiam ser isentos da sobretaxa. Para que esse diálogo seja iniciado, o governo Trump precisaria indicar quais bens americanos poderiam ser exportados em maior quantidade ao Brasil e quais produtos do Brasil os EUA estariam dispostos a importar sem as novas tarifas. A falta de resposta até o momento tem gerado apreensão no Itamaraty, que tem cobrado uma posição mais clara de Washington.
A estratégia do governo brasileiro
Enquanto aguardam uma resposta, os negociadores do governo brasileiro continuam tentando um acordo com os Estados Unidos, enquanto o setor privado, especialmente empresas americanas com investimentos no Brasil, também pressionam Washington. Essa estratégia já foi utilizada por outros países, como a União Europeia, o Canadá e o México, e visa fortalecer as negociações entre os dois governos.
Retaliações e alternativas
Embora uma retaliação com o aumento das tarifas sobre produtos americanos esteja praticamente descartada, empresários brasileiros apontam que os custos de produção no Brasil devem sofrer um impacto considerável. Caso não seja possível reverter a situação por meio de negociações, o Brasil pode adotar outras medidas, como a revisão de patentes de medicamentos ou o aumento da tributação sobre filmes e livros produzidos nos Estados Unidos.
De acordo com fontes em Washington, a ida de representantes do governo brasileiro aos EUA seria uma estratégia eficaz para melhorar o diálogo. Vários países afetados pelas tarifas de Trump seguiram esse caminho, ao invés de aguardar uma instrução direta da Casa Branca ou do USTR (Comércio dos EUA).
Desafios nas relações Brasil-EUA
As exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 40 bilhões em 2024, representando apenas 1,2% das importações totais dos americanos, que totalizaram US$ 3,3 trilhões. Esse número reflete a menor prioridade do Brasil em relação a outros parceiros comerciais dos EUA. Além disso, as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao protecionismo e à interferência do governo Trump no Judiciário brasileiro também têm gerado tensões.
Recentemente, a gestão Trump intensificou as tensões com o Brasil ao acusar o ex-presidente Jair Bolsonaro de ser alvo de perseguição, especialmente por parte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Na última sexta-feira, o Departamento de Estado dos EUA suspendeu os vistos de Moraes e outros seis magistrados, além do procurador-geral da República, Paulo Gonet, como parte da estratégia do governo americano em relação à situação política brasileira.
O futuro das relações comerciais
As negociações entre Brasil e Estados Unidos permanecem em um ponto de tensão, com cada movimento sendo cuidadosamente monitorado por autoridades de ambos os lados. A aplicação da sobretaxa de 50% poderá redefinir as relações comerciais entre os dois países, dependendo do sucesso das tratativas nos próximos dias.