Apenas 47 países confirmaram hospedagem até agora; ONU cobra subsídios maiores para delegações de nações em desenvolvimento
Impasse entre Brasil e ONU
A menos de três meses do início da COP30, marcada para Belém, o Brasil e a Organização das Nações Unidas (ONU) vivem um impasse em torno dos custos de hospedagem para as delegações internacionais. Nesta sexta-feira (22), o governo informou que apenas 47 dos 196 países esperados confirmaram reservas de acomodação para o evento.
A principal dificuldade envolve o preço elevado das diárias, que, na plataforma oficial disponibilizada pelo governo, não saem por menos de US$ 350 (cerca de R$ 1,9 mil). Esse valor está muito acima do subsídio diário de US$ 140 (R$ 756) oferecido pela ONU para cobrir hospedagem e alimentação de países em desenvolvimento.
Pedido de apoio financeiro
Em reunião realizada em Nova York, representantes da ONU e do governo brasileiro discutiram alternativas para reduzir os custos. O organismo internacional sugeriu que o Brasil financiasse parte das despesas de hospedagem de países mais pobres, proposta recusada pela Casa Civil.
“A posição do governo é clara: já estamos arcando com gastos significativos para organizar a COP e não temos como custear delegações estrangeiras”, afirmou a secretária executiva da Casa Civil, Miriam Belchior.
O Brasil, por sua vez, defende que a ONU amplie os valores de subsídio, argumentando que, em outras cidades brasileiras como São Paulo ou Rio de Janeiro, os custos diários ultrapassariam US$ 200.
Países confirmados
Até agora, 39 países reservaram hospedagens pela plataforma oficial, em sua maioria nações em desenvolvimento. Outros oito optaram por negociar diretamente com hotéis: Egito, Espanha, Portugal, República Democrática do Congo, Singapura, Arábia Saudita, Japão e Noruega.
Segundo o secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia, o governo vai organizar uma força-tarefa para ampliar o número de confirmações. “Vamos acionar diretamente as delegações para entender as dificuldades e buscar alternativas”, disse.
Correia também destacou que Belém dispõe de 33 mil quartos, número superior aos 24 mil solicitados pela ONU, mas reconheceu o problema: “A questão central é adequar os preços à realidade financeira das delegações”.
Tentativas de controle de preços
O governo brasileiro informou que a maior parte da hospedagem em Belém é composta por imóveis particulares, fora da rede hoteleira tradicional. Miriam Belchior explicou que medidas estão sendo tomadas para conter abusos, mas ressaltou os limites de atuação:
“Somos uma democracia e temos limites para intervir no setor privado. Estamos negociando no limite para que os preços possam cair em Belém”, afirmou.
No início do ano, o governo tentou firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o setor hoteleiro para fixar preços similares aos praticados durante o Círio de Nazaré, o maior evento religioso da cidade. A proposta, entretanto, não avançou.
Pressão internacional cresce
A polêmica sobre os custos da hospedagem continua a gerar atrito nos bastidores da conferência. Países de menor renda cobram soluções rápidas, enquanto o Brasil insiste que não usará recursos públicos para subsidiar delegações.
Com a proximidade da COP30, que será um dos maiores eventos climáticos da década, o desafio do governo é equilibrar a imagem de anfitrião responsável com a necessidade de garantir a participação ampla de países em desenvolvimento.