Tarifa norte-americana reacende disputas pelo subsolo brasileiro
A recente decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros reacendeu um foco estratégico na geopolítica internacional: os minerais críticos presentes no subsolo do Brasil. Em meio a articulações comerciais, autoridades norte-americanas têm sinalizado interesse crescente em tais recursos como parte de possíveis negociações bilaterais, especialmente diante da crescente demanda por insumos essenciais à transição energética e ao avanço da inteligência artificial.
A nova moeda geoeconômica: o interesse por minerais estratégicos
O movimento revela uma reconfiguração das relações comerciais globais. Washington mobiliza instrumentos de política comercial para assegurar acesso contínuo a minerais considerados estratégicos — como lítio, níquel, cobre, cobalto e os metais de terras raras — fundamentais para tecnologias de ponta em setores como mobilidade elétrica, geração de energia limpa, semicondutores e infraestrutura digital.
Segundo a Agência Internacional para as Energias Renováveis, esses minerais apresentam características como elevada concentração geográfica, dificuldades técnicas na extração e declínio das reservas — fatores que os tornam peças-chave na atual ordem global.
Energia limpa e digitalização: catalisadores da corrida mineral
A demanda mundial por fontes renováveis disparou na última década. Entre 2013 e 2022, os investimentos em energia solar e eólica superaram US$ 2,9 trilhões, promovendo expansão acelerada da capacidade instalada. No mesmo período, a China consolidou liderança nesse campo, operando mais de quatro vezes a geração solar e três vezes a geração eólica dos Estados Unidos.
Essa disparidade acentuou o alerta geopolítico: além da supremacia tecnológica, o país asiático controla amplamente a cadeia de suprimentos dos minerais utilizados nessas tecnologias. Os EUA, por sua vez, enfrentam o desafio de diversificar fontes de abastecimento, ampliando parcerias com países ricos em recursos — como o Brasil.
Infraestrutura da inteligência artificial também depende de minérios
Embora associada à economia digital, a inteligência artificial requer base física intensiva. Data centers — equipamentos essenciais à operação de algoritmos — consomem grandes volumes de energia e dependem de componentes com alto teor de metais e minerais estratégicos.
Hoje, os EUA operam cerca de 5.400 dos 12 mil data centers ativos globalmente. Para manter essa liderança, o acesso contínuo a insumos minerais tornou-se prioridade comercial e política.
Terras raras: símbolo da disputa sino-americana
As terras raras, grupo de 17 elementos utilizados em superímãs, sensores e ligas metálicas, ilustram com precisão essa tensão. Em 2023, a China detinha 68% da produção global, contra apenas 12% dos EUA. Como resposta, Washington passou a negociar acordos comerciais envolvendo concessões diplomáticas — como o pacto firmado com a Ucrânia em maio de 2025 e a controversa proposta à China no mês seguinte, condicionando vistos estudantis à exportação desses minérios.
Brasil: entre potencial mineral e soberania estratégica
Estudos recentes indicam que o Brasil pode abrigar a segunda maior reserva mundial de terras raras, o que o posiciona diretamente no epicentro da geopolítica dos recursos naturais. A abundância de minérios estratégicos confere ao país um papel decisivo na nova economia global, mas também impõe desafios significativos.
Escolhas que definem o futuro
A presença de reservas relevantes não garante protagonismo. Cabe ao Brasil escolher entre atuar como mero fornecedor de matéria-prima ou construir uma política externa que valorize seus recursos — condicionando concessões comerciais a contrapartidas tecnológicas, ambientais e sociais que promovam desenvolvimento e justiça econômica.