Medida entra em vigor e ameaça setores estratégicos brasileiros
Passa a vigorar nesta sexta-feira (1º) a sobretaxa de 50% imposta pelo governo norte-americano sobre uma série de produtos brasileiros. A decisão, anunciada em 9 de julho pelo presidente Donald Trump, representa uma ameaça direta a áreas vitais da economia nacional, como o agronegócio, os segmentos farmacêutico e de equipamentos médicos.
Diante do cenário, o governo federal intensificou esforços diplomáticos para reverter o novo regime tarifário. Representantes do setor privado também se mobilizaram, formando uma frente conjunta para evitar prejuízos bilionários e reestabelecer o diálogo entre os dois países.
Comitiva brasileira busca interlocução em Washington
No fim de semana, uma delegação composta por oito senadores embarcou para os Estados Unidos, com o objetivo de realizar encontros com empresários e parlamentares locais. Embora o grupo não esteja autorizado a negociar formalmente, as reuniões servirão como espaço para articulações políticas e levantamento de percepções do lado americano.
Carlos Viana (Podemos-MG), integrante da comitiva, explicou que o foco das ações será tentar postergar a implementação das tarifas. “Nosso esforço será no sentido de sensibilizar interlocutores americanos sobre os impactos negativos dessa medida, tanto para o Brasil quanto para os próprios Estados Unidos”, afirmou.
Governo intensifica diálogo com o setor produtivo
Desde a criação de um comitê de crise, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, o Palácio do Planalto promoveu uma série de reuniões estratégicas. Mais de 120 representantes de grandes empresas, entidades setoriais e federações industriais participaram das discussões.
Em quatro dias de rodadas técnicas, foram realizados 12 encontros com o propósito de colher subsídios, construir consensos e elaborar uma resposta coordenada à ação protecionista norte-americana. Alckmin destacou que as conversas com representantes dos EUA estão sendo feitas “de forma reservada”, embora não tenha revelado quais interlocutores conduzem as tratativas nem se houve retorno formal às iniciativas brasileiras.
Especialistas recomendam prudência e diplomacia
Analistas ouvidos apontam riscos elevados caso o Brasil opte por uma escalada no conflito comercial. Para o economista Fabio Ongaro, é fundamental evitar contornos ideológicos ou pessoais no enfrentamento da crise.
“O Brasil precisa adotar uma postura de firmeza pragmática: mostrar que tem canais diplomáticos ativos e capacidade de negociação, mas sem escalar retoricamente o conflito”, afirmou.
Ongaro observa que Trump costuma utilizar tarifas como “parte de sua narrativa política doméstica”, adotando uma postura pouco flexível em negociações. No entanto, já recuou em situações anteriores diante da repercussão negativa entre setores industriais.
Carla Beni, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), reforça que o país mantém uma reputação internacional de abertura ao diálogo. “Essa é a primeira questão. Mesmo quando falamos da Lei da Reciprocidade, o primeiro patamar da lei é o diálogo. O segundo é acionar os organismos internacionais. Só o terceiro é definir, com o comitê, quais seriam as medidas comerciais — e aí, sim, as retaliações a serem aplicadas”, explicou.