Com tarifas de 50% prestes a entrar em vigor, governo Lula busca minimizar prejuízos ao setor privado e aposta em diálogo futuro com Donald Trump
Últimos ajustes para enfrentar o tarifaço
A dois dias do início da cobrança das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o governo federal avalia que são mínimas as chances de reverter a medida no curto prazo. O Palácio do Planalto corre para concluir um pacote emergencial de apoio às empresas afetadas, que deve ser anunciado até quarta-feira (6), data marcada para a entrada em vigor da taxação.
Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconhecem que o governo não dispõe de margem de manobra para impedir a decisão do presidente americano, Donald Trump. Apesar de conversas iniciadas com autoridades dos EUA, o avanço nas negociações foi praticamente nulo. No domingo, o representante de Comércio dos EUA (USTR), Jamieson Greer, reforçou o pessimismo ao afirmar que as tarifas anunciadas por Trump são “praticamente definitivas” e que é “improvável” a celebração de novos acordos “nos próximos dias”.
Lula critica postura política de Trump
Durante evento do Partido dos Trabalhadores, em Brasília, Lula criticou o condicionamento do tarifaço a questões políticas e disse que o Brasil tem “um limite de briga com o governo americano”.
— Queremos negociar em igualdade de condições. Eles são uma potência militar e econômica, mas queremos ser respeitados. Temos interesses estratégicos, queremos crescer e não somos uma republiqueta. Condicionar questões políticas para nos taxar economicamente é inaceitável — afirmou o presidente.
Trump tem condicionado a retirada das sanções comerciais a um recuo do Supremo Tribunal Federal (STF) em processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo integrantes do governo, essa exigência inviabiliza qualquer contrapartida por parte do Brasil.
Pacote de mitigação em fase final
O Planalto trabalha para que Lula anuncie um pacote robusto de apoio às empresas afetadas, possivelmente em pronunciamento em rede nacional. O plano deve incluir linhas de crédito do BNDES e, segundo fontes, pode contemplar medidas de alívio na folha de pagamento das companhias diretamente atingidas.
O governo pretende finalizar a modelagem do pacote até amanhã, antes de qualquer tentativa de conversa direta com Trump. Apesar de o presidente americano ter declarado que Lula pode procurá-lo “quando quiser”, o Palácio do Planalto avalia que o contato só deve ocorrer após a definição clara do que poderá ser negociado.
Impacto econômico e setores isentos
A Casa Branca publicou, na semana passada, uma lista com quase 700 exceções à tarifa de 50%, o que deve preservar 44,6% das exportações brasileiras aos EUA, que continuarão a pagar alíquota de até 10%. Mesmo assim, o impacto sobre a economia brasileira é considerado expressivo, sobretudo para setores como o agronegócio e a indústria metalúrgica.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já iniciou tratativas com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, com previsão de reunião ainda nesta semana. A expectativa do governo é manter canais abertos para evitar uma escalada do conflito comercial.
Seção 301: a próxima batalha
A única frente de negociação em andamento ocorre no âmbito da Seção 301, mecanismo da Lei de Comércio dos EUA de 1974 que autoriza Washington a investigar práticas consideradas desleais. A investigação aberta por Trump envolve alegações relacionadas ao Pix, supostas barreiras a empresas de tecnologia americanas, concessão de benefícios a países como Índia e México e deficiências em medidas anticorrupção.
Brasília aposta na mobilização do setor privado dos dois países para pressionar contra medidas que agravem o comércio bilateral. No entanto, auxiliares do governo reconhecem que, caso o resultado da investigação seja desfavorável, reverter as sanções será muito mais difícil do que contestar uma ordem executiva.