Denúncia da PGR envolve Bolsonaro e 33 nomes por tentativa de golpe e abolição do Estado democrático
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue apostando na viabilização de sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2026 e na mobilização de aliados, tanto nas ruas quanto no cenário internacional, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob a acusação de liderar uma tentativa de ruptura institucional.
A estratégia visa preservar seu capital político em um momento em que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) articulam o andamento do caso, com a possibilidade de um julgamento ainda em 2025, antes da próxima corrida eleitoral.
Na quarta-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes determinou a retirada do sigilo dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que firmou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal. O conteúdo expõe detalhes das investigações sobre o suposto plano golpista.
Na denúncia apresentada na terça-feira (18), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, incluiu Bolsonaro e outros 33 envolvidos sob as acusações de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Estratégia eleitoral e embate jurídico
Bolsonaro pretende sustentar sua candidatura até o último momento, evitando ceder espaço para um novo nome dentro da direita. A leitura entre seus aliados é que abrir mão da disputa de forma prematura poderia enfraquecê-lo politicamente, além de reduzir sua capacidade de articulação para reverter uma eventual prisão ou sua inelegibilidade, vigente até 2030.
A tática guarda semelhança com a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2018, quando se lançou candidato mesmo preso e, posteriormente, transferiu a candidatura para Fernando Haddad (PT) apenas em setembro daquele ano.
No STF, a primeira etapa do processo será a análise da denúncia para decidir se Bolsonaro e os demais acusados se tornarão réus. O julgamento está previsto para ocorrer na Primeira Turma da Corte, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia. No entanto, conforme revelou a colunista Mônica Bergamo, há ministros que defendem que o caso seja levado ao plenário, composto pelos 11 integrantes do Supremo, devido à sua relevância institucional.
Reação política e protestos
Diante do avanço das investigações, Bolsonaro e aliados traçaram estratégias para rebater a denúncia. Entre as medidas discutidas, está a intensificação da mobilização popular e um apelo a organismos internacionais, alegando perseguição política.
Na quarta-feira (19), Bolsonaro participou de uma reunião com parlamentares na residência do deputado Coronel Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara. Durante o encontro, houve um alinhamento entre a defesa técnica e o discurso político. Como resultado, foi elaborado o documento intitulado Manifesto em Defesa da Democracia e da Liberdade no Brasil, no qual seus aliados argumentam que o ex-presidente estaria sendo alvo de uma ofensiva política e que sua exclusão da disputa eleitoral representaria uma ameaça ao processo democrático.
No texto, há críticas ao governo Lula e a menção de que “o sistema busca eliminar Bolsonaro politicamente porque ele já aparece à frente nas pesquisas contra o descondenado”, em referência ao atual presidente. O manifesto também aciona organismos internacionais e entidades ligadas aos direitos humanos para denunciar supostas arbitrariedades.
Outra medida definida no encontro foi a reformulação dos atos marcados para 16 de março. Inicialmente, as manifestações estavam voltadas para o impeachment de Lula e aconteceriam em diversas capitais. Agora, a prioridade será a realização de um grande ato em Copacabana, no Rio de Janeiro, com foco na defesa da anistia e na campanha contra o governo. Bolsonaro orientou seus apoiadores a evitar faixas e cartazes que possam ser interpretados como antidemocráticos, temendo novos desdobramentos jurídicos.
Desdobramentos e riscos
A divulgação do conteúdo da delação de Mauro Cid representou um novo desafio para Bolsonaro, trazendo à tona mais detalhes sobre a suposta conspiração para anular as eleições de 2022. O depoimento do militar foi um dos principais elementos que impulsionaram o avanço da investigação conduzida pela Polícia Federal.
No momento em que o sigilo da colaboração foi levantado, Bolsonaro estava reunido com aliados, acompanhando uma entrevista do advogado do general Braga Netto, José Luís de Oliveira Lima, ao UOL. Segundo relatos, o ex-presidente foi questionado sobre um possível cenário de prisão e teria respondido que não há medidas a serem tomadas, pois “é isso que eles querem”, em referência ao STF.
Apesar da velocidade com que o processo tem avançado, aliados de Bolsonaro ainda consideram improvável uma prisão preventiva neste momento. Entretanto, seguem em busca de alternativas jurídicas para evitar um eventual cumprimento de pena após condenação.
No campo político, a avaliação de seus apoiadores é de que o julgamento pode ser influenciado pelo ambiente social. O grupo acredita que, caso a popularidade de Lula siga em queda, a Corte pode adotar uma postura mais cautelosa, postergando uma decisão definitiva sobre o ex-presidente.
Enquanto isso, Bolsonaro aposta na mobilização de sua base para sustentar sua relevância política e manter a direita unida em torno de sua candidatura em 2026.