Ex-presidente passou por procedimento de 12 horas para correção de aderências intestinais; equipe médica recomenda agenda restrita e repouso prolongado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, sem previsão de alta, segundo informou a equipe médica responsável pelo seu acompanhamento nesta segunda-feira (14). A estimativa é de que ele permaneça hospitalizado por pelo menos mais duas semanas, com restrições no pós-operatório que podem se estender por até três meses.
A cirurgia, realizada no domingo (13), teve duração de 12 horas e foi classificada como de alta complexidade. A intervenção teve como objetivo tratar aderências intestinais e realizar a reconstrução da parede abdominal — consequências, segundo os médicos, da facada sofrida por Bolsonaro em 2018 e das sucessivas cirurgias abdominais realizadas desde então.
Ao contrário do que publicou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro nas redes sociais, o ex-presidente ainda não foi transferido para um quarto e continua sob cuidados intensivos.
“Na primeira avaliação, ele não apresentava indicações de urgência ou emergência. O que aconteceu é que, nessas 48 horas, ele mantinha sempre um quadro de distensão abdominal”, afirmou o cirurgião Cláudio Birolini, que liderou o procedimento. “Para a gente, é um sinal precoce que tem uma coisa desandando.”
Segundo Birolini, o quadro clínico incluía um “intestino hostil”, com múltiplas aderências e comprometimento da parede abdominal. “O ponto de início é a facada. Posteriormente, as outras cirurgias de reconstrução também contribuíram para o quadro atual.”
Pós-operatório exige cuidados
De acordo com os médicos, as primeiras 48 horas após o procedimento são consideradas críticas. Bolsonaro está sendo alimentado por via intravenosa e ainda não há previsão para a retomada da alimentação oral, que dependerá da recuperação das funções fisiológicas do intestino.
Foram necessárias duas horas apenas para acessar a área comprometida do intestino. Apesar da gravidade, os profissionais descartaram a necessidade de transfusão sanguínea e informaram que não houve intercorrências durante a cirurgia.
“O intestino estava bastante sofrido, o que nos leva a crer que ele já vinha com esse quadro há alguns meses”, explicou Birolini. “Esperamos que ele não precise de uma nova cirurgia nas próximas horas. Novas aderências vão se formar, isso é esperado.”
Questionado sobre os hábitos alimentares do ex-presidente, Birolini afirmou que não há indícios de que alimentos específicos tenham causado o problema. “O fato de ele comer pastel com caldo de cana não afeta”, disse.
O médico destacou ainda que Bolsonaro costuma manter uma rotina intensa, o que pode dificultar a adesão às orientações médicas. “Ele tem uma agenda bastante intensa, e é difícil segurar ele. Eu vou tentar segurar, na medida do possível, mas ele tem o ritmo dele.”
Recuperação e comunicação
De acordo com os médicos, Bolsonaro está consciente e chegou a fazer piadas durante a internação. A divulgação de boletins médicos sobre seu estado de saúde dependerá de autorização da família. Após a coletiva médica, o ex-presidente publicou uma mensagem em suas redes sociais agradecendo o apoio recebido.
“Meus mais sinceros agradecimentos para todos neste momento. Um forte abraço em cada um e repito: voltaremos!”, escreveu.
Participaram da entrevista coletiva os cardiologistas Leandro Echenique e Ricardo Camarinha, o cirurgião Cláudio Birolini, o diretor médico do DF Star, Guilherme Meyer, e o diretor-geral da unidade, Allisson Barcelos Borges.
Bolsonaro deu entrada no hospital no sábado (12), transferido de Natal (RN), onde passou mal enquanto cumpria agenda política relacionada à defesa da anistia para envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Ele foi levado de helicóptero à capital potiguar após sentir fortes dores abdominais no interior do estado.
Esta foi a sexta e mais longa cirurgia abdominal do ex-presidente desde 2018. Segundo boletim divulgado pelo DF Star no domingo, a obstrução intestinal foi causada por uma dobra do intestino delgado, que dificultava o trânsito do conteúdo intestinal e foi corrigida durante o procedimento.