Com tom alarmante, JPMorgan afirma que tarifas propostas por Trump podem desencadear crise nas cadeias globais de fornecimento: “Haverá sangue”
As recentes tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos importados de mais de 60 países fizeram o banco norte-americano JPMorgan elevar de 40% para 60% a probabilidade de uma recessão global ainda em 2025. Segundo a instituição, as novas medidas protecionistas representam uma ameaça direta ao comércio internacional e ao crescimento econômico mundial.
Em relatório divulgado após o anúncio, o banco aponta que a política econômica adotada por Washington passou a ser o principal fator de risco para as perspectivas globais. Assinado por Bruce Kasman, Jahangir Aziz, Joseph Lupton e Nora Szentivanyi, o documento — intitulado There will be blood (“Haverá sangue”) — adota tom de alerta e evoca uma passagem bíblica do livro do Êxodo, em que Deus transforma as águas do Nilo em sangue para convencer o faraó a libertar o povo hebreu. A referência reforça a gravidade com que os analistas enxergam o atual cenário.
Para o JPMorgan, as novas tarifas agravam as fragilidades da economia mundial ao comprometer cadeias globais de fornecimento e tornar a política comercial dos Estados Unidos consideravelmente menos favorável ao ambiente de negócios. Entre os possíveis efeitos, o relatório destaca a retaliação de países atingidos — a China já respondeu com tarifas adicionais —, além da deterioração no sentimento de empresários e das possíveis interrupções logísticas no comércio internacional.
O banco também observa que, embora cortes nas taxas de juros possam amenizar parcialmente os efeitos das tarifas, a compensação seria limitada. Indicadores de mercado já apontam a expectativa de até quatro reduções nos juros americanos ao longo do ano, segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group.
Perspectivas e limitações
Apesar do aumento no risco de recessão, o JPMorgan pondera que ainda é prematuro rever amplamente suas projeções macroeconômicas. A instituição avalia que será necessário observar como as tarifas serão implementadas e como avançarão as negociações com os países envolvidos. Ainda assim, ressalta que a economia global e o nível de atividade dos Estados Unidos mostram sinais de resiliência, o que pode indicar uma desaceleração moderada — desde que o cenário não piore significativamente.
O relatório, no entanto, adverte que choques econômicos têm natureza imprevisível. Além disso, aponta que políticas comerciais mais rígidas e a redução dos fluxos migratórios podem gerar obstáculos duradouros à oferta e limitar o crescimento de longo prazo da economia americana.
Reações internacionais: entre confronto e negociação
As respostas às novas tarifas americanas têm sido variadas. Enquanto alguns países preferem esperar para avaliar a extensão das medidas, outros adotaram respostas mais imediatas. A China, por exemplo, anunciou uma tarifa de 34% sobre todos os produtos importados dos Estados Unidos, com início previsto para 10 de abril, conforme divulgado pela agência estatal Xinhua.
A intensificação das tensões comerciais impactou os mercados financeiros globais. Bolsas ao redor do mundo registraram quedas significativas, e o dólar valorizou-se frente a outras moedas. No Brasil, o Ibovespa caía 3,08% por volta das 14h43, aos 127.107 pontos. No mesmo horário, o dólar subia 3,52%, cotado a R$ 5,827.
Em contrapartida, alguns países buscaram o caminho do diálogo. O Vietnã, um dos mais afetados pelas medidas — com uma tarifa de 46% sobre suas exportações —, iniciou tratativas com o governo dos EUA. Em publicação na rede Truth Social, o presidente Trump relatou que o líder vietnamita, To Lam, demonstrou disposição para zerar as tarifas impostas aos Estados Unidos em troca de um acordo bilateral.
Segundo Trump, Lam afirmou que o Vietnã estaria disposto a reduzir suas tarifas a zero caso as negociações avancem. Antes disso, o governo vietnamita já havia solicitado a suspensão temporária da tarifa por três meses, como forma de viabilizar o diálogo com Washington.