Enquanto negociações de paz ganham força, Rússia busca ganhos territoriais na região de Donetsk
O avanço no terreno, muitas vezes imperceptível em mapas, é medido em centenas de metros e não em quilômetros. Enquanto o presidente Donald Trump pressiona a Ucrânia e a Rússia a chegarem a um acordo que encerre a guerra, o presidente Vladimir Putin intensifica esforços para capturar a maior extensão possível de território ao longo de uma linha de frente de aproximadamente 1.200 km — quase a distância entre Chicago e Nova York.
Pequenos grupos e drones transformam o campo de batalha
Com a presença cada vez maior de drones de vigilância, que tornam qualquer movimentação arriscada, as forças russas passaram a enviar pequenos grupos de soldados a pé, mais difíceis de detectar. Essas unidades se infiltram discretamente nas linhas ucranianas, reagrupam-se e atacam, repetindo o ciclo à medida que avançam.
No início de agosto, esses grupos conquistaram algumas áreas na estratégica região oriental de Donetsk, próximo à cidade de Pokrovsk. Além disso, formações maiores utilizaram drones e superioridade numérica para flanquear posições ucranianas, elevando temores de que a linha de frente pudesse se fragilizar justamente quando a busca por um acordo de paz de três anos se intensifica.
Apesar disso, as forças ucranianas conseguiram repelir os russos em grande parte dos ganhos recentes, estabilizando o front após reforços. Ainda assim, os combates permanecem intensos. O general Oleksandr Syrskyi, comandante militar ucraniano, destacou que as tropas russas aumentaram ações ofensivas no norte de Donetsk e continuam avançando em direção a Pokrovsk.
“O que importa para Putin agora é conquistar o máximo de território possível antes que qualquer acordo seja fechado”, afirmou o coronel Dmytro Palisa, comandante da 33ª Brigada Mecanizada da Ucrânia. Sua unidade recentemente se posicionou próxima a Pokrovsk, alvo de tentativas russas há mais de um ano.
Donetsk: um foco estratégico e simbólico
Putin insiste que Donetsk, núcleo do histórico Donbass, pertence por direito à Rússia. Nas negociações com Trump, teria argumentado que a Ucrânia precisaria ceder toda a região para alcançar a paz. No entanto, a Rússia controla apenas cerca de três quartos de Donetsk.
Na porção ucraniana a oeste, aproximadamente do tamanho de Delaware, os combates continuam intensos. Pequenos grupos russos exploraram lacunas na linha de frente perto da cidade de Dobropillia, alvo de ataques regulares com drones e mísseis, que atingem escolas e correios. Apesar das perdas, a Rússia ainda não conseguiu converter essas incursões em avanços significativos.
Brigadas ucranianas enfrentam desafios logísticos e humanos
As brigadas ucranianas mais experientes estão exaustas, envolvidas em combates contínuos desde 2022 e, em alguns casos, desde 2014. Entre elas, destacam-se as brigadas Azov, 33ª e 59ª, atualmente engajadas na defesa de Pokrovsk.
O recrutamento também é um desafio. Apesar de campanhas públicas chamativas e da lei que permite o alistamento voluntário de cidadãos com mais de 60 anos, o Exército ucraniano enfrenta dificuldade em repor perdas.
As defesas ucranianas, embora resilientes, ainda não possuem tecnologia suficiente para neutralizar as unidades de drones russos que atacam linhas de suprimento. Como medida, são utilizados escudos de rede ao longo das estradas e em veículos, mas a eficácia é limitada.
Táticas de infiltração e combate rastejante
O uso de pequenos grupos de soldados, normalmente dois a quatro homens, é uma estratégia central russa. A infiltração permite avanços discretos e ataques surpresa, mas sem impactos estratégicos profundos, segundo militares ucranianos.
As unidades russas enfrentam resistência e, em várias ocasiões, soldados se rendem ou são eliminados pelas forças ucranianas. Drones de ataque, como o Baba Yaga, antes capazes de completar até 70 voos, agora mal realizam dez devido à presença de sistemas russos.
“Precisamos reconhecer que essas unidades de drones estão funcionando”, afirmou o sargento Oleksandr Karpiuk, destacando a ameaça crescente representada pela tecnologia russa no campo de batalha.
Conclusão: um conflito de paciência e estratégia
O conflito em Donetsk exemplifica a complexidade da guerra moderna: avanços territoriais limitados, táticas de infiltração, drones dominando os céus e forças ucranianas desgastadas em defesa de cada metro. Enquanto o mundo observa negociações de paz, Putin busca consolidar ganhos, e a Ucrânia luta para manter posições estratégicas essenciais.