Conflito na Faixa de Gaza registra novas mortes em hospital, incluindo repórteres da Reuters, AP e Al Jazeera
Um ataque a um hospital na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, deixou pelo menos 20 mortos nesta segunda-feira (25/08), entre eles cinco jornalistas que atuavam para agências internacionais, como Reuters, Associated Press (AP) e Al Jazeera. O episódio reforça a escalada de violência contra profissionais de imprensa na região.
Jornalistas atingidos em dois ataques consecutivos

Foto: Mohammed Salem/REUTERS
O cinegrafista Hussam al-Masri, da Reuters, foi atingido por um míssil enquanto realizava uma transmissão ao vivo para a agência, em um andar próximo ao telhado do hospital Nasser. De acordo com funcionários e testemunhas, o local foi alvo de um segundo ataque minutos depois, que matou outros quatro jornalistas, além de equipes de resgate e profissionais de saúde que haviam corrido para socorrer as vítimas do primeiro impacto.
Entre os mortos estão Mariam Abu Dagga, freelancer da AP; Mohammed Salama, da Al Jazeera; Moaz Abu Taha, jornalista independente colaborador da Reuters; e Ahmed Abu Aziz, freelancer do site Middle East Eye. O fotógrafo Hatem Khaled, também da Reuters, sobreviveu, mas ficou ferido.

A jornalista freelance Mariam Abu Dagga trabalhou para a Associated Press e outros meios de comunicação (Imagem de 14/06/2024)Foto: Jehad Alshrafi/AP Photo/dpa/picture alliance
Israel reconhece ataque e anuncia investigação
As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram que a área do hospital foi atingida e informaram que o chefe do Estado-Maior ordenou uma investigação sobre o episódio. Em nota, o Exército declarou: “Lamentamos qualquer dano a indivíduos não envolvidos e não temos como alvo jornalistas. Atuamos para mitigar danos a civis na medida do possível, mantendo a segurança das tropas.”
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou tratar-se de um “trágico acidente” e reforçou que os ataques têm como alvo o Hamas, grupo considerado terrorista por Israel. “Nossa guerra é contra os terroristas do Hamas. Nossos objetivos justos são derrotar o Hamas e trazer nossos reféns de volta para casa”, disse.
O incidente ocorre duas semanas após a morte do correspondente da Al Jazeera Anas Al-Sharif, também em Gaza, durante outro ataque israelense que matou quatro jornalistas. Israel alegou, na ocasião, que Al-Sharif teria ligação com o Hamas, informação negada pela emissora.
Associações de imprensa denunciam “ataque à mídia”
O Sindicato dos Jornalistas Palestinos denunciou uma “guerra aberta contra a mídia livre, com o objetivo de aterrorizar jornalistas e impedir que cumpram seu dever de informar”. Dados da entidade indicam que mais de 240 profissionais da imprensa palestina morreram por ações israelenses desde 7 de outubro de 2023, quando ataques do Hamas deixaram 1,2 mil mortos em Israel.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas contabiliza 197 mortes de jornalistas desde o início do conflito e pede que a comunidade internacional responsabilize Israel por ataques a profissionais da imprensa. A Associação da Imprensa Estrangeira em Israel classificou o bombardeio como um dos mais letais contra jornalistas internacionais desde o início da guerra em Gaza.

Bombardeio atingiu exato local onde cinegrafista da Reuters trasmitia imagens ao vivo de Khan YunisFoto: Abdallah F.s. Alattar/Anadolu Agency/IMAGO
Reações internacionais
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou não ter sido informado sobre o ataque e afirmou estar insatisfeito com o ocorrido. “Não estou feliz com isso. Não quero ver isso. Ao mesmo tempo, precisamos acabar com esse pesadelo”, disse à imprensa.
No Reino Unido, o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, chamou o ataque de “horrível” e pediu um cessar-fogo imediato. A Alemanha também manifestou choque com a morte de jornalistas e profissionais de resgate, cobrando investigação da ação militar.
Dificuldades para cobertura jornalística em Gaza
O hospital Nasser é frequentemente utilizado por jornalistas para transmissões ao vivo, mostrando a situação humanitária da região. Desde o início da guerra em 2023, Israel proibiu a entrada de repórteres estrangeiros na Faixa de Gaza, limitando a cobertura a jornalistas locais, muitos com experiência internacional.
O país também investiga a morte de Issam Abdallah, jornalista da Reuters, atingido por disparos de tanque israelense no sul do Líbano em outubro de 2023, sem que até o momento haja conclusão oficial.
( Com DW )