Homenagem na Câmara termina em conflito enquanto país debate impacto da violência contra líder conservador ligado a Donald Trump
O que deveria ser uma homenagem silenciosa ao ativista conservador Charlie Kirk, assassinado na quarta-feira (10), transformou-se em um episódio de gritos e acusações na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. A notícia do atentado interrompeu a sessão e gerou discussões acaloradas entre parlamentares sobre como conduzir a homenagem ao jovem ícone da direita americana.
O presidente da Câmara, Mike Johnson, precisou intervir para restabelecer a ordem após ouvir cobranças como “Aprove uma lei sobre armas!”, enquanto democratas questionavam por que outros assassinatos não recebiam a mesma atenção. O embate evidenciou a polarização política em torno do episódio.
Reação imediata da direita
Antes mesmo de a identidade do atirador ser revelada, lideranças conservadoras classificaram o crime como parte de um suposto ataque articulado pela esquerda contra o movimento conservador.
A influenciadora Laura Loomer pediu, nas redes sociais, “reprimir a esquerda com toda a força do governo”, enquanto Elon Musk, dono do X, afirmou que “a esquerda é o partido do assassinato”.
Kirk, aliado próximo de Trump
Charlie Kirk, de 31 anos, cofundador da organização Turning Point USA, foi atingido por disparos durante um discurso em Orem, Utah. As autoridades acreditam que o atirador estava posicionado em um prédio a cerca de 200 metros do local. Dois suspeitos chegaram a ser detidos, mas foram liberados após depoimento.
Kirk era um dos principais articuladores do apoio juvenil ao presidente Donald Trump. Além da proximidade com o ex-mandatário, mantinha laços estreitos com Donald Trump Jr. e outros integrantes do círculo mais próximo da Casa Branca. Segundo relatos, tinha influência até em nomeações no governo.
Conhecido por discursos provocativos sobre imigração, armas, raça e gênero, Kirk era defensor fervoroso da Segunda Emenda. No momento do ataque, respondia a perguntas sobre violência armada.
Em vídeo divulgado no Salão Oval, Trump culpou a “retórica de lunáticos radicais de esquerda” e a imprensa pelo assassinato. “A violência é consequência de demonizar adversários, dia após dia, da forma mais odiosa possível”, declarou.
Reações democratas e alerta de especialistas
O ex-presidente Barack Obama condenou o crime, mas pediu cautela: “Ainda não sabemos a motivação, mas esse tipo de violência não tem lugar em nossa democracia”.
Para a professora Ruth Braunstein, da Universidade Johns Hopkins, o episódio pode elevar ainda mais as tensões políticas. “É uma tragédia pessoal, mas também tem potencial de inflamar um ambiente já altamente polarizado”, disse à agência Reuters.
Violência política em ascensão
O caso de Kirk soma-se a uma escalada de ataques políticos nos EUA. Levantamento da Reuters aponta mais de 300 incidentes violentos com motivação ideológica desde a invasão ao Capitólio, em janeiro de 2021.
Entre os episódios, estão o ataque incendiário contra o governador democrata da Pensilvânia, Josh Shapiro; um plano frustrado para sequestrar Gretchen Whitmer, governadora de Michigan; e a invasão à residência de Nancy Pelosi, em 2022, quando seu marido foi agredido com um martelo.
Até o próprio Trump foi alvo de duas tentativas de assassinato em 2024, uma delas durante um comício em que foi atingido de raspão na orelha.
“Não há justificativa para violência política em nosso país. Isso precisa acabar”, afirmou o deputado republicano Steve Scalise, sobrevivente de um tiroteio em 2017.