Setores de alimentos, bebidas e agronegócio concentram grande parte das possibilidades; Lula busca ampliar cooperação com China e Rússia
Um levantamento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, identificou 1.601 oportunidades de exportação para o Brasil junto aos países do Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O estudo foi divulgado em um momento de tensões comerciais globais, marcado pelo aumento unilateral de tarifas promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, inclusive contra membros do grupo.
A conjuntura é considerada favorável ao aprofundamento dos laços comerciais entre o Brasil e os demais integrantes do bloco. Desde o último sábado (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpre agenda oficial na China, principal parceira comercial do país. A expectativa do governo é ampliar as exportações de produtos como proteína animal, café, alimentos processados e itens relacionados à bioenergia para o mercado chinês.
Antes de seguir para Pequim, Lula esteve em Moscou, onde destacou o interesse em fortalecer a cooperação bilateral com a Rússia. “Essa minha visita aqui é para estreitar e refazer com muito mais força a nossa construção de parceria estratégica. O Brasil tem interesses políticos, comerciais, culturais, científicos e tecnológicos com a Rússia. Por seu lado, a Rússia deve ter muitos interesses com o Brasil. Somos duas grandes nações, em continentes opostos, e nós temos a chance de, nesse momento histórico, a gente poder fazer com que a nossa relação comercial possa crescer muito”, afirmou o presidente.
Mapeamento de mercados
De acordo com a ApexBrasil, as oportunidades identificadas se dividem da seguinte forma: 582 com a África do Sul, 400 com a China, 388 com a Índia e 231 com a Rússia. A pauta exportadora brasileira ao grupo é dominada por commodities como soja, petróleo bruto, minério de ferro e carne bovina, que respondem por 77% das vendas. A China é o principal destino, com 28% da participação em 2024, seguida pela Índia, com 1,56%.
Os dados indicam superávit na balança comercial brasileira com os países do Brics: neste ano, o Brasil exportou US$ 102,5 bilhões ao bloco e importou US$ 82,1 bilhões, resultando em saldo positivo de US$ 20,4 bilhões.
As áreas com maior potencial de expansão incluem alimentos e bebidas, agronegócio, construção, máquinas e equipamentos, moda, saúde e segmentos multissetoriais.
Entre os principais grupos de produtos importados pelos países do Brics com destaque para a participação brasileira, estão:
- Combustíveis minerais, lubrificantes e derivados: US$ 560 bilhões importados, com 3,8% de participação do Brasil*
- Matérias-primas não comestíveis (exceto combustíveis): US$ 354 bilhões, com 21% de participação brasileira*
- Artigos manufaturados, sobretudo por material: US$ 84 bilhões, sendo 3,4% brasileiros*
- Produtos alimentícios e animais vivos: US$ 52 bilhões, com expressivos 26% de origem brasileira*
- Outros bens: US$ 142 bilhões, com 0,5% do Brasil
Exportações por estado e concorrência internacional
O estudo aponta os principais estados brasileiros exportadores aos membros do Brics em 2024:
- São Paulo lidera para a África do Sul (44,8%) e Índia (30,1%)*
- Minas Gerais aparece como principal fornecedor para a Rússia (19,2%)*
- Rio de Janeiro lidera as exportações para a China (17,8%)
Os principais concorrentes do Brasil nessas exportações são os Estados Unidos e Taiwan. No caso da soja, por exemplo, o Brasil mantém a liderança global, mesmo com a forte competição dos americanos.
Produtos mais exportados para os Brics em 2024
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Soja – US$ 32 bilhões (principal destino: China)
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Petróleo bruto – US$ 21 bilhões (China)
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Minério de ferro – US$ 19 bilhões (China)
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Carne bovina – US$ 6 bilhões (China)
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Celulose – US$ 4,6 bilhões (China)
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Açúcar e melaço – US$ 3,2 bilhões (China)
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Algodão em bruto – US$ 1,9 bilhão (China)
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Carne de aves – US$ 1,6 bilhão (China)
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Ferro-gusa e ligas de ferro – US$ 1,3 bilhão (China)
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Óleos vegetais refinados – US$ 0,9 milhão (China)
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Outros – US$ 9,6 bilhões (principalmente para China)
Efeitos do protecionismo de Trump
Desde janeiro, no início de seu segundo mandato, Donald Trump reativou uma política tarifária agressiva, impondo sobretaxas contra diversos países, com foco na China — que viu produtos seus importados pelos EUA sofrerem tarifas de até 145%. As medidas acirraram a guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta.
Questionado sobre a possibilidade de revisar essas tarifas, Trump foi categórico: “Não estou aberto a retirar tarifas de 145% da China. Não estamos buscando tantas isenções tarifárias”, disse em evento na Casa Branca na quarta-feira (7).
Durante encontro com Vladimir Putin na sexta-feira (9), Lula criticou a postura norte-americana: “A taxação de comércio com todos os países do mundo, de forma unilateral, joga por terra a grande ideia do livre comércio, o multilateralismo e, muitas vezes, o respeito à soberania dos países que nós temos que ter”, afirmou.