Transtornos mentais como ansiedade e depressão estão entre os principais motivos de afastamento de trabalhadores com vínculo formal no Brasil.
Segundo dados oficiais, os transtornos psíquicos vêm ocupando posição de destaque nos últimos anos, com impacto crescente sobre a saúde ocupacional e a previdência social.
De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, em 2023 os episódios depressivos e os transtornos de ansiedade estiveram entre os cinco diagnósticos mais frequentes nos auxílios por incapacidade temporária — antigo auxílio-doença. Juntos, esses transtornos psiquiátricos responderam por mais de 200 mil afastamentos no ano passado, atrás apenas de problemas musculoesqueléticos, como dores nas costas e lesões por esforço repetitivo.
Transtornos mentais como ansiedade e depressão estão entre os principais motivos de afastamento de trabalhadores com vínculo formal no Brasil e de concessão de benefícios por incapacidade pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Segundo dados oficiais, os transtornos psíquicos vêm ocupando posição de destaque nos últimos anos, com impacto crescente sobre a saúde ocupacional e a previdência social.
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) aponta os códigos F32 (episódios depressivos), F41 (transtornos ansiosos), F33 (transtorno depressivo recorrente) e F43 (reações ao estresse grave e transtornos de adaptação) como os mais citados nos laudos médicos que fundamentam a concessão do benefício.
Tendência de alta
O avanço dos casos de transtornos mentais como causa de afastamento não é novo, mas se intensificou especialmente após a pandemia de Covid-19, quando fatores como isolamento, insegurança financeira e sobrecarga de trabalho agravaram quadros de sofrimento psíquico entre a população economicamente ativa.
Especialistas em saúde pública e medicina do trabalho apontam que os números refletem não apenas o aumento real dos casos, mas também uma maior conscientização por parte dos trabalhadores e dos profissionais de saúde quanto ao diagnóstico e tratamento dessas condições.
“Hoje há menos estigma para buscar ajuda e mais compreensão de que ansiedade e depressão são doenças que, se não tratadas, comprometem a capacidade funcional do indivíduo”, afirma o psiquiatra Leonardo Barbosa, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Impacto no INSS
O crescimento desses afastamentos também tem impacto direto nas despesas da Previdência Social. Além dos custos com benefícios temporários, há aumento da concessão de aposentadorias por invalidez em casos crônicos e resistentes ao tratamento.
Segundo relatório de gestão do INSS, os transtornos mentais e comportamentais já figuram entre as principais causas de aposentadoria por incapacidade permanente, superando diagnósticos como doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer.
Para ter direito ao benefício por incapacidade, o segurado deve comprovar, por meio de perícia médica, que está temporária ou permanentemente impossibilitado de exercer sua atividade profissional habitual. No caso de doenças mentais, essa avaliação pode envolver não apenas laudos psiquiátricos, mas também o histórico clínico e a evolução do quadro de saúde.
Prevenção e políticas públicas
Diante desse cenário, especialistas defendem o fortalecimento das ações de saúde mental no ambiente de trabalho, com foco na prevenção, identificação precoce e acolhimento. Empresas que adotam programas estruturados de saúde emocional e promovem ambientes saudáveis tendem a reduzir o número de afastamentos e melhorar a qualidade de vida dos funcionários.
“Investir em saúde mental não é custo, é estratégia de sustentabilidade. A empresa que cuida do bem-estar dos seus trabalhadores colhe resultados em produtividade e clima organizacional”, afirma a psicóloga organizacional Ana Cláudia Mendes.
O Ministério da Saúde também reforça a importância da integração entre os serviços da atenção primária e da saúde do trabalhador para o enfrentamento do adoecimento mental relacionado ao trabalho.