Dados do sistema Deter revelam que área desmatada equivale ao tamanho de Belém, cidade que sediará a Conferência do Clima
A destruição da floresta amazônica voltou a crescer de forma alarmante. Dados divulgados nesta sexta-feira (6) pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicam que 960 km² de vegetação foram devastados em maio, uma extensão comparável à cidade de Belém, que receberá a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) em novembro. O Brasil, que será anfitrião do evento, reforça sua posição como protagonista nas discussões globais sobre a crise climática.
O avanço do desmatamento representa um crescimento de 91% em relação ao mesmo período do ano anterior, configurando o segundo pior índice já registrado para o mês na série histórica. O maior volume de destruição foi observado em maio de 2021, quando a área desmatada atingiu 1.390 km².
Essa tendência de elevação vem sendo apontada pelo Inpe desde abril, quando o desmatamento já havia aumentado 9,7%, saltando de 3.191 km² para 3.502 km².
Os alertas emitidos pelo sistema Deter apontam que o estado mais afetado foi o Mato Grosso, onde 627,11 km² foram desmatados, representando um aumento de 237%. As três cidades com maiores áreas devastadas também pertencem à região: Feliz Natal (108,79 km²), União do Sul (76,95 km²) e Porto dos Gaúchos (73,62 km²).
Outros estados que registraram números expressivos foram o Pará, com 145,10 km² desmatados, um aumento de 5%, e o Amazonas, que registrou 142,63 km² de destruição, crescimento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado.
Impacto na imagem do Brasil e expectativas para a COP30
Especialistas alertam para o reflexo da devastação ambiental em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30. “Aumento do desmatamento nunca é positivo, mas este ano será especialmente prejudicial, já que o país receberá uma Conferência do Clima e ocupará a presidência do evento, com poder de influenciar a agenda global”, afirmou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, em entrevista ao Terra.
Astrini ressalta que a atuação ambiental do Brasil ao longo dos últimos anos consolidou sua influência internacional. “Os números do desmatamento nos dois primeiros anos do governo Lula foram o principal cartão de visita ambiental do país mundo afora. Perder esse avanço pode afetar a credibilidade do Brasil nas discussões climáticas”, destacou.
Apesar dos desafios, ele mantém um tom otimista, afirmando que ainda há tempo para conter o avanço do desmatamento antes da COP30. “Chegar à conferência com uma redução mais significativa do desmatamento beneficiaria o Brasil em diversas frentes: melhoraria sua imagem internacional, fortaleceria o combate às mudanças climáticas, protegeria a floresta e seus povos e traria um impacto positivo para a presidência da COP”, concluiu.