Dependência do transporte rodoviário no Brasil faz com que reajustes no combustível tenham reflexos diretos na economia.
O recente aumento de R$ 0,22 por litro no preço do diesel, anunciado pela Petrobras na última semana, deve resultar em um reajuste de 2% a 2,5% no custo do transporte rodoviário de cargas. Esse acréscimo tende a impactar diretamente o preço de produtos comercializados em supermercados, farmácias e estabelecimentos varejistas em todo o país.
Segundo Lauro Valdivia, assessor técnico da NTC&Logística, o efeito do reajuste do diesel deve ser percebido nas bombas em até duas semanas.
“Mas a gente já estima, pelo valor da Petrobras, que vai ser mais ou menos de 2% a 2,5% a mais no frete só desse último aumento”, afirmou.
Atualmente, mais da metade das cargas transportadas no Brasil depende das rodovias, o que torna o frete um fator essencial para o abastecimento da população. Como o diesel é o principal combustível utilizado pelos caminhões, representando cerca de 35% do custo do frete, qualquer variação em seu preço se reflete no valor dos produtos.
O coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, André Braz, destaca que é difícil mensurar com exatidão o impacto desse aumento no consumidor final.
“O diesel é um combustível estratégico, tem impacto na inflação, mas é muito complexo medir o quanto isso vai bater em cada produto, o quanto isso vai aumentar o preço de cada produto, e quando isso tende a aparecer na inflação ao consumidor”, explicou.
Segundo o especialista, a alta no preço do frete ocorrerá, mas o momento exato dependerá dos contratos firmados entre empresas de transporte e clientes. Enquanto as transportadoras mantêm contratos de preço fixo com renegociação anual, caminhoneiros autônomos tendem a repassar o aumento de forma mais imediata, conforme abastecem com o combustível reajustado.
Impacto além do transporte rodoviário
O diesel não influencia apenas os custos do frete rodoviário. O combustível também é amplamente utilizado em máquinas agrícolas, na geração de energia por usinas termelétricas e no transporte urbano por ônibus.
Dessa forma, praticamente todos os produtos consumidos no país carregam embutido o custo do diesel.
“O efeito indireto do diesel na inflação é muito grande. Qualquer alimento que você consuma em um grande centro urbano chegou lá via transporte rodoviário, [seja] um pacote de arroz ou mesmo um carro”, afirmou Braz.
O impacto, no entanto, varia conforme o valor agregado de cada item. Enquanto alimentos são altamente sensíveis à variação do frete, produtos como eletrônicos e automóveis sentem efeitos menores.
Alternativas logísticas e desafios estruturais
A dependência do Brasil pelo modal rodoviário é um fator crítico para a economia. O país possui potencial para ampliar o uso de alternativas como ferrovias e a cabotagem – transporte marítimo entre portos nacionais –, mas esses modais ainda não são suficientemente explorados.
“O problema do Brasil é que a gente tem longas distâncias que poderiam ser feitas por navios através da cabotagem ou pelo trem. E, hoje, essas rotas estão sendo feitas pelo caminhão, que não deveria porque o caminhão custa mais caro”, ressaltou Valdivia.
Embora investimentos em outras formas de transporte possam reduzir custos e aumentar a eficiência logística, Valdivia pontua que o caminhão continuará sendo essencial para as entregas finais.
“Mas falar que o trem, o navio vai substituir o caminhão… isso esquece. Não vai, porque nunca vai deixar na porta da farmácia, do supermercado ou no shopping. Vai depender do caminhão para fazer isso”, concluiu.
Fonte: G1