Tesouraria dos Bancos
A elevação da taxa Selic tende a pressionar os resultados das tesourarias dos bancos brasileiros em 2025.
Após um período em que conseguiram aproveitar a volatilidade do mercado para obter ganhos no final de 2024, as instituições financeiras agora enfrentam o desafio de equilibrar os custos crescentes de captação com uma carteira de crédito cujos juros não são ajustados com a mesma rapidez.
Os principais bancos do país, como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, sinalizam que os ganhos com suas tesourarias devem ser inferiores aos registrados em 2024. No entanto, a expectativa é que o cenário não se repita da mesma forma que no biênio 2022-2023, quando Bradesco e Santander tiveram perdas significativas devido à alta dos juros. “Não esperamos nada parecido com 2021 e 2022 porque o aumento esperado [da Selic] não é nada parecido”, afirmou o presidente do Santander, Mario Leão, em reunião com analistas de mercado no início de fevereiro.
Impacto da Selic
As projeções dos bancos se baseiam na expectativa de que a taxa Selic, atualmente em 13,25% ao ano, atinja 14,25% em março e possa chegar a 15% no final de 2025. Esse cenário impacta diretamente os custos de captação das instituições, influenciando a gestão de ativos e passivos (ALM, na sigla em inglês).
No que se refere à negociação de títulos no mercado, os bancos aproveitaram a volatilidade dos ativos brasileiros no final de 2024 para obter ganhos, mas o desempenho para este ano é incerto. “Temos uma visão muito mais clara do resultado a realizar das posições do balanço do banco. O que não temos efetivamente é a capacidade de projetar os resultados de negociações de mercado”, destacou o presidente do Itaú, Milton Maluhy.
Banco do Brasil na contramão
Diferente dos concorrentes, o Banco do Brasil afirma estar mais protegido contra os impactos da alta da Selic devido à composição de seu balanço e estratégias de negociação de ativos. “Uma delas é a posição em títulos pós-fixados, que no contexto de alta de juros contribui para proteger o balanço do banco contra eventual volatilidade na curva de juros”, explicou Daniel Bogado, gerente-geral da tesouraria do BB. Em dezembro de 2024, 82,6% dos títulos registrados no balanço do banco eram pós-fixados.
Ademais, a margem com mercado do BB também inclui os resultados do Banco Patagonia, sua subsidiária argentina, cujo desempenho em 2024 foi impulsionado pela desvalorização do peso. No entanto, o banco já indicou que essa contribuição deve ser menor em 2025.
Composição do resultado
Nos balanços financeiros, os resultados das tesourarias aparecem na linha denominada margem com mercado. Esse indicador engloba tanto os ganhos com negociação de títulos e valores mobiliários quanto os provenientes da gestão de ativos e passivos. A segunda vertente é mais previsível, mas tende a ser menos favorável em cenários de juros elevados.
A gestão de ativos e passivos busca equilibrar os prazos e custos entre os depósitos captados e a carteira de crédito. Normalmente, os depósitos têm prazos mais curtos e remuneração atrelada ao CDI, enquanto algumas modalidades de crédito — como imobiliário, financiamento de veículos e consignado — possuem taxas pré-fixadas. “Quando os juros sobem, os bancos têm de largada um aumento no custo de captação, que normalmente é pós-fixado”, explica Matheus Guimarães, analista da XP Investimentos. “Até que o banco ajuste suas novas concessões de crédito à nova realidade de juros, há um descasamento temporário.”
Essa foi a principal razão para as perdas registradas nas tesourarias de Santander e Bradesco entre 2022 e 2023, conforme avaliam especialistas do mercado. “O resultado de ALM, que impacta a margem com mercado, está diretamente relacionado à estratégia de proteção de cada banco”, observa Gustavo Schroden, analista de instituições financeiras do Citi.
Diferentes abordagens
Entre os quatro maiores bancos do país, o Itaú adota uma estratégia de proteção contra impactos cambiais nos capitais de suas subsidiárias na América Latina. O Bradesco, por sua vez, não conta com uma política formal de hedge, enquanto o Santander passou a montar posições nesse sentido em 2024.
O Banco do Brasil, por outro lado, realiza operações de hedge pontuais. Segundo Daniel Bogado, a estrutura da carteira de crédito do BB — bem distribuída entre pessoa física, empresas e agronegócio — ajuda a minimizar os impactos da alta dos juros. “As carteiras de pessoas físicas e agro são majoritariamente pré-fixadas e possuem prazo mais curto, enquanto a carteira de pessoas jurídicas é predominantemente pós-fixada”, explica.
O banco não divulga seu custo médio de captação, mas Bogado destaca que mais de 50% dos recursos captados comercialmente pelo BB não são remunerados pela Selic. Essa característica levou o analista Mario Pierry, do Bank of America, a destacar em relatório que o BB parece estar mais preparado para enfrentar a alta dos juros devido à sua maior dependência de contas correntes, poupança e depósitos judiciais, que possuem menor correlação com a Selic do que os depósitos a prazo.