Um encontro improvável entre um pescador e um empresário revela que a verdadeira riqueza não está no bolso — mas na alma.
Era só um barquinho na beira do rio, carregado de peixes e silêncio.
E um homem simples, de pés descalços, sorriso calmo e olhar que sabia das marés da vida.
Do outro lado, um terno caro, um relógio que marcava pressa e um celular que não parava de vibrar.
Dois mundos que se encontraram na areia.
Essa história — a famosa fábula do pescador e o homem de negócios — pode ser interpretada de muitas formas.
Para uns, é um convite a trabalhar menos, desacelerar e viver o presente.
Para outros, é um chamado a se esforçar mais, para só depois usufruir da vida.
Mas a verdade está além desses extremos.
Não é só trabalhar para depois viver, nem viver o agora sem propósito.
Esse encontro improvável — entre o pescador e o empresário — não é só uma fábula.
É um espelho.
Um daqueles que a vida coloca diante de nós quando insistimos em caminhar rápido demais.
E talvez por isso essa história ecoe tanto no coração de quem já viveu muito…
De quem carrega saudade.
De quem sabe que a felicidade nunca morou nas vitrines, mas nas varandas da vida.
Lembro da minha infância…
Das mãos calejadas do meu pai, que voltava do campo sem pressa,
com um punhado de histórias e um coração cheio de gratidão.
Ele dizia:
“Filho, o dia termina melhor quando a gente não esquece de olhar o céu.”
E eu olho até hoje.
Porque o céu ensina o que o dinheiro nunca vai ensinar:
a grandeza está nas coisas pequenas.
O pescador daquela história é o retrato de tantos que souberam viver o agora,
que não esperaram pela aposentadoria, pelo bônus anual ou pela casa na praia.
Ele não acumulava cifras — acumulava momentos.
Sabia que o peixe que pescava era suficiente.
Suficiente para alimentar a família.
Suficiente para dividir com os amigos.
Suficiente para dormir tranquilo.
E o empresário?
Ah, ele queria mais. Sempre mais.
Mais barcos, mais redes, mais funcionários, mais mercados.
Mas… pra quê?
“Pra um dia descansar numa vila e tocar violão ao pôr do sol”, respondeu.
A ironia é quase poética:
o sonho do empresário já era a realidade do pescador.
Mas ele não via.
Porque, quando se vive de metas, o presente vira obstáculo.
E a vida não é obstáculo — é paisagem.
A gente passa tanto tempo adiando a felicidade
que se esquece de que ela está ali:
no café quente de uma tarde chuvosa,
no cheiro da roupa limpa,
no abraço apertado de um neto.
Acreditamos que ela virá com um prêmio, um cargo, uma conquista.
Mas a felicidade é tímida, quase invisível.
Ela gosta de quem a reconhece no cotidiano.
Talvez seja isso que mais me emocione nessa história.
A lembrança dos meus tempos de menino,
quando correr atrás de uma pipa ou brincar na beira do rio
era o suficiente para o dia ser perfeito.
Hoje, tantos correm atrás de algo que nem sabem nomear…
e se esquecem de que a paz não se encontra — se cultiva.
Qualidade de vida não está no calendário nem na conta bancária.
Está na alma.
Está em saber parar, mesmo com o mundo correndo.
Em escolher estar presente, mesmo com a mente cheia.
Em priorizar o essencial, mesmo que o supérfluo grite.
Esta crônica não é um manual.
É um lembrete.
De que a vida, por mais complexa que pareça, é simples.
E que talvez o que buscamos lá fora já esteja dentro da gente.
Por isso, da próxima vez que olhar o mar, ou o céu, ou os olhos de quem você ama, pare.
Respire fundo.
E pergunte a si mesmo:
“Eu estou vivendo… ou apenas esperando viver?”




