Por Wilton Emiliano Pinto *
A velhice não nasce do nada. Ela é o fruto maduro da árvore da juventude, a herdeira natural de cada escolha, de cada passo, de cada sonho acalentado ou deixado para trás. O tempo, esse mestre silencioso, nos conduz por um caminho onde a infância é semente, a juventude é crescimento e a velhice, a colheita.
Há quem enxergue a velhice como um fardo, um acúmulo de anos que pesa sobre os ombros. Mas para aqueles que viveram com intensidade, cada ruga é um verso de poesia, cada fio branco uma lembrança vívida dos dias em que o coração pulsava acelerado diante das possibilidades da vida. O idoso carrega consigo todas as versões de si mesmo: o menino sonhador, o jovem impetuoso, o adulto batalhador. Não há ruptura, apenas continuidade.
Na velhice, os passos podem ser mais lentos, mas a alma ainda dança ao som das músicas que marcaram a juventude. O olhar pode perder a nitidez, mas continua vendo, com clareza, os momentos que valeram a pena. E, se o corpo já não obedece como antes, o espírito, agora mais sábio, compreende que a vida não é só movimento, mas também contemplação.
Cada conversa com os mais jovens é um espelho do passado, um reflexo de si mesmo em tempos idos. Conselhos, lembranças, histórias contadas e recontadas são pontes que ligam gerações, perpetuando o legado da juventude na velhice. E, se há arrependimentos, eles se tornam lições; se há saudades, transformam-se em ternura.
Assim, a velhice herda a vida da juventude, como um velho carvalho que, firme, carrega na casca as marcas do tempo, mas em cada folha renovada continua soprando a brisa da existência. Porque o tempo passa, mas a essência fica pulsando dentro de quem soube viver.

Funcionário Público aposentado e gosta de uma boa prosa.