A vida me ensinou que há perdas que pesam mais que malas.
Perdi chácaras, sítios e pedaços de terra onde já ouvi o galo anunciar o dia e bebi leite ainda morno, tirado ali, no curral, antes mesmo do sol nascer. 🌅
Perdi também a companhia de amigos que já partiram, deixando apenas o eco de suas risadas na memória.
E, como se não bastasse, o corpo já não me serve com a mesma disposição de antes — a força se dispersa como o pó de uma estrada seca.
Mas há coisas que nem o tempo ousa tirar. ✨
Entre elas, o gosto pela viagem, pela paisagem que corre ao lado da janela, pelo cheiro de terra misturado ao vento e pelo simples ato de seguir em direção a algo que me espera. E, desta vez, o que me espera é o Araguaia. 🌊
Partimos cedo: eu, minha esposa e minha irmã.
Um trio cuja soma das idades alcança 238 anos de histórias vividas. 📖
Os passos hoje são mais lentos, é verdade, mas a decisão de seguir em frente continua firme — e talvez seja exatamente isso que torne cada jornada ainda mais especial e cheia de significado.
A estrada, longa e conhecida, começa a se abrir diante de nós como um filme que já vi, mas que nunca cansa de ser revisto. Agosto pinta o cerrado com suas cores secas e, ainda assim, deslumbrantes. Ipês dourados florescendo como um buquê radiante sob a luz do sol 🌼. Árvores trocando folhas como quem renova promessas, e um pasto amarelado que, mesmo castigado, guarda em silêncio a certeza da chuva que virá.
A cada parada, a lembrança me visita. ☕ O cheiro de café em um pequeno posto à beira da estrada me leva de volta aos tempos de menino, quando o fogão a lenha crepitava e minha mãe servia o café forte, acompanhado de bolo de fubá. 🍰
Um cavalo pastando solitário me recorda dos animais que criávamos, das manhãs em que meu pai me mandava buscar as vacas para a ordenha, e do cuidado em não espantar as galinhas, que ciscavam por todo lado.
E então, depois de quilômetros que se perderam entre conversas e silêncios, Aruanã aparece. O Araguaia está lá — imenso, sereno e, ao mesmo tempo, poderoso. É como reencontrar um velho amigo que não mudou na essência, mesmo que tudo ao redor tenha se transformado. Suas águas não carregam apenas peixes e correntezas… carregam também histórias. E talvez, de algum modo, guardem até as minhas.
À beira do rio, deixo que o vento leve o peso dos anos. Vejo nas praias crianças brincando, pescadores concentrados, barcos cortando a superfície como quem não tem pressa. 🚣♂️
Fecho os olhos e quase consigo ouvir vozes de outros tempos, sentir a energia das viagens passadas, quando a disposição era maior e os companheiros de estrada, mais numerosos.
E penso: perdi terras, perdi forças, perdi pessoas queridas. Mas não perdi a vida.
E enquanto eu puder vir até aqui, tocar a água com as mãos, sentir o calor do sol no rosto ☀️ e ouvir a canção do rio, ainda vale — e muito — a pena viver.
Porque, no fundo, a vida é como o Araguaia: às vezes mansa, às vezes agitada, mas sempre seguindo seu curso. 🌊
E eu sigo com ela… ora na corrente, ora na beira, mas sempre com o coração aberto para tudo o que ainda vem. 💛
