Após meses de desgastes, o governo e parlamentares buscam unidade em meio à ameaça de tarifas dos EUA
A recente crise gerada pela proposta de aumento nas tarifas sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levou o Palácio do Planalto e parlamentares do Centrão a reforçarem um discurso unificado em defesa dos interesses econômicos do Brasil. Após intensos embates sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e um período de desgaste entre o governo e aliados, esse realinhamento político começa a dar sinais de recuperação, mas também de fragilidade. O reflexo dessa união, no entanto, é passageiro e pode ser rapidamente desfeito, uma vez resolvida a tensão com o governo dos EUA.
O impacto das tarifas de Trump e o enfraquecimento do bolsonarismo
A proposta de Trump e a aproximação entre o governo e o Centrão ajudaram a amenizar as tensões internas, mas esse apoio é visto por alguns parlamentares como pontual. Para eles, o governo Lula ainda precisa investir em um diálogo mais eficaz com o Congresso e recuar do discurso de polarização com a oposição. Apesar de um alinhamento temporário, muitos observam a ameaça das tarifas como uma oportunidade de desestabilizar o bolsonarismo, cujos aliados parecem sofrer com o impacto da decisão americana.
Segundo o senador Renan Calheiros (MDB-AL), a unidade em torno da defesa da economia nacional representa um fortalecimento da relação entre os Poderes, reduzindo as tensões e ampliando o apoio ao governo. “Acho que isso vai reacender a unidade em defesa do Brasil”, afirmou o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), reforçando a ideia de que a reação ao “tarifaço” pode ser um ponto de virada para o governo.
Desafios e perspectivas para a Reforma Tributária e outras pautas do governo
A tramitação da Reforma Tributária foi um exemplo de aproximação entre o governo e o Centrão. Com o apoio do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, o projeto ganhou força e foi aprovado em dezembro de 2023, marcando um avanço importante para o governo. No entanto, as divergências políticas aumentaram após a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara, quando acusações de desorganização e falta de diálogo geraram atritos entre o Planalto e o Legislativo.
Além das reformas, o governo também se prepara para votações importantes nas próximas semanas. Entre elas, está a revisão das regras de licenciamento ambiental, que pode representar uma derrota significativa para a ministra Marina Silva. O projeto de flexibilização das regras foi aprovado no Senado e agora aguarda votação na Câmara. Caso seja aprovado, o texto ainda precisará da sanção presidencial.
PEC da Segurança e isenção do Imposto de Renda: projetos em andamento
Outros projetos relevantes, como a PEC da Segurança Pública e a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, também estão em discussão no Congresso. A PEC da Segurança Pública, defendida pelo ministro Ricardo Lewandowski (Justiça), será votada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, enquanto o projeto de isenção do IR deve ser analisado nas comissões nesta semana.
O avanço desses projetos será crucial para o governo, especialmente no que diz respeito à agenda econômica. A isenção do Imposto de Renda, que representa uma renúncia fiscal de cerca de R$ 27 bilhões, é uma das principais apostas do Planalto para fortalecer sua base política.
O cenário político e as incertezas para 2026
Embora a crise com Trump tenha levado a uma maior unidade no governo e no Centrão, o cenário político ainda é instável. De acordo com analistas políticos, o impacto das tarifas dos EUA pode ter repercussões significativas nas campanhas eleitorais de 2026. A estratégia do governo e a resposta do Congresso nas próximas semanas serão determinantes para consolidar ou enfraquecer as bases de apoio, especialmente em um ano eleitoral marcado por incertezas.
O governo, portanto, se encontra em um momento decisivo, com uma agenda legislativa repleta de desafios e a necessidade de navegar pelas águas turbulentas da política nacional e internacional. O que parecia ser um simples embate com o governo americano pode se transformar em um ponto de inflexão crucial para o futuro político e econômico do Brasil.