Proposta de tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras gera divisões no setor agropecuário e destaca a necessidade de cautela nas negociações
O impasse entre pragmatismo e política
A ameaça de Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, com início marcado para 1º de agosto, colocou o agronegócio nacional em uma situação delicada. O setor se encontra dividido entre a necessidade de uma abordagem pragmática e a disputa política que tem influenciado o debate. A possibilidade de aplicar a Lei da Reciprocidade, aprovada em abril deste ano, se tornou um dos principais pontos de discussão.
A Lei da Reciprocidade e a união entre ruralistas e governo
A aprovação relâmpago da Lei da Reciprocidade foi uma resposta imediata ao tarifamento global de Trump, com apoio unânime da bancada ruralista e do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Inicialmente voltada para questões ambientais com a União Europeia, a lei foi adaptada para contemplar a reciprocidade nas questões comerciais. A aprovação da legislação representou um esforço conjunto inédito entre o governo e os parlamentares, evidenciado pela fala do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que reforçou a necessidade de unidade em tempos de crise: “Nas horas mais importantes não existe Brasil de esquerda ou de direita. Que pensemos diferente sim, mas não quando o povo está ameaçado.”
A reação do agro à escalada de Trump
Com a ameaça de Trump de aplicar tarifas sobre o Brasil, o agronegócio começou a reavaliar a aplicação da Lei da Reciprocidade, que antes era vista como uma medida estratégica e até positiva. A possibilidade de uma retaliação mais agressiva tem gerado reações mistas no setor. Para Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR Nacional) e voz influente entre os bolsonaristas, a tarifa imposta por Trump é uma “decisão soberana”, destacando o contexto geopolítico envolvido. Garcia também defende que o governo brasileiro tenha cautela, sem confrontar diretamente os Estados Unidos.
O posicionamento de Tereza Cristina e a busca por negociações diplomáticas
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), relatora do texto da Lei da Reciprocidade, que já foi utilizada para legitimar a reação do Brasil, destacou em abril que a legislação deveria ser acionada apenas quando medidas abusivas fossem aplicadas. Agora, em meio à ameaça de tarifas, ela reitera que a lei deve ser considerada uma “carta na manga”, a ser utilizada somente após esgotados os canais diplomáticos. Sua posição segue na linha de priorizar negociações antes de tomar ações mais drásticas.
A diplomacia como caminho estratégico
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que representa a bancada ruralista, adotou uma postura mais cautelosa e defendeu uma “resposta firme e estratégica” do governo, sem, no entanto, mencionar a aplicação da Lei da Reciprocidade. A FPA reforçou a importância de uma abordagem diplomática, com um foco nas tratativas bilaterais. Em linha com esse pensamento, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) criticou a política nacional, afirmando que o Brasil precisa superar radicalismos ideológicos e olhar para o futuro, sem permitir que a economia seja refém de narrativas políticas divisivas.
Busca por uma solução temporária
Diante do impasse, representantes do governo, do agro e da indústria têm trabalhado para buscar uma solução intermediária. Um consenso foi alcançado nas últimas reuniões: pedir aos Estados Unidos o adiamento de 90 dias da entrada em vigor das tarifas, com o objetivo de ganhar tempo para negociar uma solução definitiva. A medida visa evitar um confronto direto e abrir espaço para a resolução da questão por meio do diálogo e da diplomacia.