Organização identifica expansão acelerada do influenza A (H3N2) e monitora impactos no fim de 2025 e início de 2026; no Brasil, variante genética já foi detectada no Pará
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta internacional diante do aumento da circulação do vírus influenza em diferentes regiões do mundo, às vésperas da temporada de gripe prevista para o fim de 2025 e o início de 2026. O crescimento está associado, sobretudo, à expansão de uma nova ramificação genética do influenza A (H3N2), que passou a ser detectada com maior frequência a partir de agosto deste ano.
No Brasil, autoridades sanitárias confirmaram recentemente a identificação dessa variante em amostras coletadas no estado do Pará. A informação consta no Informe de Vigilância das Síndromes Gripais referente à Semana Epidemiológica 49, divulgado em 12 de dezembro de 2025.
Variante em monitoramento global
A cepa que motivou o alerta é conhecida tecnicamente como subclado K, também classificada como J.2.4.1. Segundo a OMS, trata-se de uma evolução genética do vírus da gripe sazonal, e não de um novo agente infeccioso.
Embora o termo “gripe K” tenha ganhado espaço em redes sociais e manchetes, a organização reforça que o influenza A é historicamente marcado por mutações frequentes. A variante K apresenta algumas alterações genéticas em relação a linhagens anteriores, o que explica sua maior presença em amostras recentes ao redor do mundo.
Até o momento, os dados disponíveis não indicam aumento da gravidade dos casos associados a essa variante. Ainda assim, o cenário inspira cautela por coincidir com a chegada do inverno no Hemisfério Norte, período em que tradicionalmente cresce a demanda por atendimento médico em razão de infecções respiratórias.
Atividade dentro do esperado, mas com sinais de antecipação
Em avaliação técnica, a OMS afirma que a atividade global da gripe segue, em linhas gerais, dentro do padrão esperado para a estação. No entanto, alguns países têm registrado aumentos mais precoces e intensos do que o habitual, o que acende um sinal de alerta para sistemas de saúde que já operam sob pressão durante o inverno.
A organização descreve o momento como típico da gripe sazonal, infecção que pode variar de quadros leves a casos graves, com risco de hospitalização e morte, especialmente entre grupos mais vulneráveis.
Mesmo sem evidências de maior severidade clínica, o avanço rápido da variante K é classificado como uma “evolução notável”, justamente pela velocidade de sua disseminação em diferentes regiões.
Disseminação internacional e risco de chegada ao Brasil
O principal fator que embasa o alerta é a rápida expansão da variante desde agosto de 2025, identificada por meio de dados de sequenciamento genético em diversos países. Esse movimento ocorre simultaneamente ao início do inverno no Hemisfério Norte, onde a circulação de vírus respiratórios tende a se intensificar.
Na América do Sul, até agora, não há registros amplos da circulação sustentada da variante K. Ainda assim, especialistas avaliam que a chegada ao Brasil é plausível, especialmente diante do aumento do fluxo internacional de pessoas no fim do ano.
“A gente só pode imaginar que esse subclado vá chegar ao país. Neste momento em que começam as férias e aumenta a circulação de pessoas entre continentes, a chance de esse clado entrar no Brasil e se espalhar rapidamente é muito grande”, afirma Rosana Richtmann, chefe do departamento de infectologia do Grupo Santa Joana.
Na Europa, a OMS já observa um início antecipado da temporada de gripe, com aumento da positividade dos testes e predominância do influenza A (H3N2) tanto na atenção primária quanto em hospitais. Em outras regiões, o comportamento do vírus é mais heterogêneo, com temporadas prolongadas em partes do Hemisfério Sul e circulação contínua em áreas tropicais.
Vigilância internacional e papel do sequenciamento
Grande parte desse monitoramento é viabilizada pelo Global Influenza Surveillance and Response System (GISRS), rede coordenada pela OMS que reúne mais de 160 instituições em 131 países. O sistema acompanha a circulação do influenza ao longo do ano e funciona como um mecanismo global de alerta precoce.
O trabalho combina dados clínicos, informações epidemiológicas e análises laboratoriais, incluindo sequenciamento genético compartilhado em bases internacionais. Esse conjunto permite identificar padrões de expansão e avaliar riscos potenciais à saúde pública.
Vacinação segue como principal estratégia
Apesar da atenção voltada à variante K, a OMS reforça que a vacinação anual continua sendo uma das ferramentas mais eficazes para reduzir o impacto da gripe. Dados preliminares indicam que, mesmo em um cenário de mudanças genéticas do vírus, as vacinas seguem diminuindo a necessidade de hospitalização.
Estimativas iniciais apontam efetividade de aproximadamente 70% a 75% na prevenção de internações entre crianças de 2 a 17 anos e de 30% a 40% entre adultos, com variações conforme o grupo e a região analisados.
A recomendação é clara: a imunização permanece fundamental, sobretudo para pessoas com maior risco de complicações e para profissionais que atuam diretamente no cuidado desses pacientes.
Grupos mais vulneráveis à doença
A OMS lembra que, embora a maioria das pessoas se recupere em cerca de uma semana sem necessidade de atendimento médico, a influenza pode evoluir para complicações graves. Crianças pequenas, idosos, gestantes e pessoas com doenças pré-existentes estão entre os mais suscetíveis. Profissionais de saúde também figuram como grupo relevante, tanto pelo risco de infecção quanto de transmissão.
“Os principais grupos de risco, independentemente do tipo de vírus influenza — e especialmente no caso do H3N2 — são os idosos. Acima dos 60 ou 65 anos, e principalmente acima dos 80, o risco de doença grave, hospitalização e morte é significativamente maior”, explica Richtmann. Segundo ela, gestantes e crianças também demandam atenção especial diante do surgimento de novas variantes.
Recomendações da OMS para o momento atual
A organização não recomenda, por ora, restrições a viagens ou ao comércio internacional. O foco está em medidas tradicionais de saúde pública, com ênfase em dois eixos principais: o fortalecimento da vigilância epidemiológica e da capacidade laboratorial, e a proteção individual e coletiva.
Entre as orientações estão a vacinação anual de grupos prioritários e profissionais de saúde, além de medidas proporcionais para reduzir a transmissão, como higiene das mãos, etiqueta respiratória e, em caso de sintomas, evitar contato próximo e considerar o uso de máscara em ambientes sensíveis.
A infectologista chama atenção ainda para a baixa cobertura vacinal registrada no Brasil em 2025. “Especialmente entre idosos, foi uma das piores que já tivemos. Por isso, é essencial manter vigilância e garantir que, assim que a vacina atualizada para 2026 estiver disponível, a população-alvo se vacine”, conclui.



