Dirigentes do partido avaliam que candidatura própria ao Planalto pode fortalecer desempenho nas disputas para Câmara e Senado e reduzir perdas eleitorais nos estados
Estratégia eleitoral do PL para 2026
Integrantes do PL avaliam que a eventual candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República pode funcionar como alavanca para ampliar a presença do partido no Congresso Nacional nas eleições de 2026. A leitura vem sendo compartilhada pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, em reuniões com dirigentes estaduais.
Segundo relatos de participantes de um encontro promovido por Flávio na semana passada, Valdemar defendeu que a manutenção de um candidato próprio ao Planalto tende a impulsionar a votação da legenda nas disputas proporcionais. Na avaliação do dirigente, esse movimento tem provocado apreensão em outras siglas do campo da direita, como o PP, do senador Ciro Nogueira (PI), e o Republicanos, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Disputa na direita e impacto das pesquisas
Tarcísio é visto por setores do centrão e do mercado financeiro como um nome competitivo para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na terça-feira (16), a divulgação de dados da pesquisa Genial/Quaest repercutiu no mercado financeiro e coincidiu com queda da Bolsa. O levantamento apontou Lula na liderança e indicou Flávio à frente de Tarcísio em um cenário no qual ambos concorreriam: o senador apareceu com 23% das intenções de voto, ante 10% do governador paulista.
Bancadas como prioridade do partido
Atualmente, o PL detém a maior bancada tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, com 87 deputados federais e 15 senadores. Dirigentes da legenda projetam que, com uma candidatura presidencial própria, esses números poderiam chegar a 125 deputados e 25 senadores a partir do pleito de 2026.
Entre parlamentares do partido, a avaliação é de que o nome de Flávio nas urnas pode servir de estímulo a candidaturas competitivas nos estados e, ao mesmo tempo, reduzir confusões na votação. Um exemplo citado é a eleição de 2022 em São Paulo, quando parte do eleitorado digitou o número do PL em vez do Republicanos na disputa pelo governo estadual, o que resultou em votos nulos.
Críticas à hipótese de apoio a Tarcísio
Em conversa com jornalistas na segunda-feira (15), o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que uma eventual candidatura presidencial de Tarcísio pelo Republicanos prejudicaria o desempenho do PL nas eleições proporcionais.
“Ele sendo candidato no 10 [número do Republicanos], diminui voto de legenda para deputado federal. Isso atrapalha. Nós não podemos abrir mão do 22 [número do PL]”, disse o deputado.
Sóstenes também questionou a relação do governador com o partido. “Qual foi o gesto de aproximação ao PL que o Tarcísio fez até hoje? É público que, em várias conversas, o [ex-]presidente Bolsonaro já solicitou ao Tarcísio vir para o PL, ele nunca vem. O [ex-]presidente já falou que, se não estiver no PL, ele não vai apoiar”, afirmou. Segundo o parlamentar, é “pouco provável” que Jair Bolsonaro abra mão de lançar o filho mais velho em favor do governador paulista.
Foco no Senado e na Câmara
Apesar das discussões em torno da pré-candidatura presidencial, dirigentes do PL reiteram que a principal prioridade da sigla segue sendo a eleição de senadores e deputados federais. Em declarações públicas, Jair Bolsonaro tem defendido a ampliação da bancada no Senado como forma de alterar a correlação de forças e viabilizar pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal —atribuição exclusiva dos senadores.
No caso da Câmara, um número maior de deputados também interessa ao partido por ampliar o volume de recursos do fundo partidário.
Reunião com dirigentes e sinalização de unidade
Diante do ceticismo de parte do meio político sobre a viabilidade da candidatura de Flávio, Valdemar Costa Neto abriu uma reunião com presidentes estaduais do PL, na terça-feira (9), afirmando que o partido terá candidato próprio para enfrentar Lula nas eleições do próximo ano.
Em sinal de unidade, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro desejou sorte ao enteado e fez uma oração para que ele não fosse atingido pela “máquina de destruir reputações”, segundo participantes do encontro. Michelle afirmou ainda que, “se Deus quiser”, Flávio será o próximo presidente da República.
Bastidores familiares e apoio interno
Durante a reunião, Michelle Bolsonaro também pediu desculpas ao deputado federal André Fernandes (PL-CE) por críticas feitas anteriormente, relacionadas à negociação de apoio do partido a uma possível candidatura de Ciro Gomes (PSDB) ao governo do Ceará. O episódio havia provocado atritos entre Michelle e filhos do ex-presidente.
Ela relatou ainda que teve desentendimentos com Flávio, mas que ambos se reconciliaram, situação que classificou como comum em qualquer família. O senador, segundo relatos, afirmou que a madrasta terá papel relevante na interlocução com o eleitorado feminino.
Flávio também comentou, em tom informal, que o senador Rogério Marinho (RN), secretário-geral do PL, poderia ajudar na aproximação com eleitores idosos, em referência à atuação de Marinho na articulação da reforma da Previdência em 2019, quando era secretário especial da área no governo Bolsonaro.



