Pesquisa de longo prazo indica que o método de preparo influencia os efeitos da bebida sobre a saúde do coração; consumo moderado está associado a menor mortalidade
O café, presença diária na mesa dos brasileiros, pode oferecer benefícios adicionais à saúde quando preparado com filtro de papel. É o que indica um amplo estudo conduzido por pesquisadores da Noruega, que analisou dados de saúde de mais de 500 mil pessoas ao longo de cerca de duas décadas. A investigação avaliou adultos entre 20 e 79 anos e cruzou informações sobre o consumo da bebida, incluindo quantidade e método de preparo, com desfechos relacionados à mortalidade.
Método de preparo faz diferença
De acordo com os resultados, o consumo de café filtrado esteve associado a menor risco de morte por doenças cardiovasculares, como cardiopatia isquêmica e acidente vascular cerebral, em comparação com o café preparado por métodos sem filtragem, como prensa francesa ou expresso. O menor índice de mortalidade foi observado entre indivíduos que consumiam de uma a quatro xícaras por dia.
Publicado no European Journal of Preventive Cardiology, o estudo considerou fatores clássicos de risco cardiovascular, como idade, tabagismo, pressão arterial e níveis de colesterol. Uma das hipóteses para os resultados está na diferença da composição química entre os tipos de preparo: métodos não filtrados preservam maiores concentrações de diterpenos — substâncias que podem elevar o colesterol —, enquanto o filtro de papel retém parte desses compostos.
O pesquisador Aage Tverdal, do Departamento de Saúde Pública da Noruega e autor principal do estudo, destacou que o impacto do café sobre a saúde do coração é menor do que o de hábitos como atividade física regular ou controle do peso, mas ainda assim relevante. Para pessoas com colesterol elevado, segundo ele, optar pelo café filtrado pode ser uma escolha mais adequada.
Consumo elevado no Brasil
No Brasil, o consumo de café é expressivo. Levantamento do Instituto Axxus, realizado em 2021, mostrou que 30% dos brasileiros ingerem seis xícaras ou mais por dia, enquanto 45% consomem entre três e cinco xícaras diariamente. A bebida é mais frequente ao acordar, durante a manhã e após o almoço, de acordo com os entrevistados.
Benefícios variam conforme a quantidade
Evidências científicas indicam que os efeitos do café sobre o organismo variam conforme a dose. Uma xícara diária já é suficiente para aumentar o estado de alerta e contribuir para o funcionamento intestinal. Com duas xícaras, há ganhos no desempenho físico, como melhora da resistência e redução da sensação de fadiga, além de associação com menor risco de insuficiência cardíaca.
Pesquisas recentes reforçam esses achados. Um estudo publicado em janeiro no European Journal of Preventive Cardiology, com quase 500 mil participantes no Reino Unido, apontou que o consumo de cerca de três xícaras diárias de café moído esteve relacionado a uma redução de 21% no risco de acidente vascular cerebral. Os antioxidantes presentes nos grãos são apontados como responsáveis por proteger as artérias contra danos que favorecem doenças cardiovasculares.
Outro trabalho, conduzido pelo Instituto Karolinska, na Suécia, com mais de um milhão de pessoas, observou que o consumo de cinco xícaras por dia esteve associado a um risco 29% menor de diabetes tipo 2. Compostos como o ácido cafeico e os ácidos clorogênicos podem atuar na prevenção de alterações no pâncreas ligadas à produção de insulina. O efeito protetor também foi observado com o café descafeinado.
Redução do risco de gota
Há ainda evidências de benefício em outras condições. Dados do estudo Health Physicians Follow-Up, da Universidade de Boston, indicam que altas doses de café estão associadas a menor risco de gota em homens. Ao longo de 12 anos, aqueles que consumiam seis ou mais xícaras diárias apresentaram uma redução de 59% no risco de desenvolver a doença, em comparação com não consumidores. Entre os que ingeriam de quatro a cinco xícaras por dia, a redução foi de 40%.
Os resultados reforçam que, além da quantidade, o modo de preparo do café pode influenciar seus efeitos sobre a saúde, especialmente quando o consumo é frequente e prolongado.



