Relatório do Pnuma aponta perdas crescentes e defende transição urgente para evitar colapso econômico e social
Um planeta no limite
A opção de simplesmente manter as coisas como estão diante do aquecimento global já custa trilhões de dólares por ano e essa fatura só aumenta. A conclusão é de um documento divulgado nesta terça-feira (9) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), durante a sétima Assembleia Ambiental da ONU, em Nairóbi. O levantamento alerta que, se o cenário atual persistir, o Produto Interno Bruto global pode encolher 4% até 2050 e 20% até o fim do século. Na direção oposta, investir em estabilidade climática e na recuperação ambiental poderia gerar trilhões, salvar milhões de vidas e retirar populações inteiras da pobreza.
Futuro em disputa
Para a diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, o planeta está “numa encruzilhada”. Segundo ela, manter o rumo atual “não é realmente uma escolha”. Em entrevista à DW, Andersen disse temer que governos e sociedades se tornem complacentes e lembrou que os mais pobres serão os mais atingidos se a resposta global não ganhar velocidade.
O alerta coincide com novos dados do programa europeu Copernicus: as emissões que impulsionam o aquecimento registraram novo recorde em 2025 — ano que deve figurar entre os mais quentes já medidos, ao lado de 2023.
O custo da omissão
Produzido por 287 especialistas de 82 países, o relatório aponta que mudar o curso da crise poderia adicionar trilhões ao PIB mundial todos os anos, além de evitar mortes e reduzir a fome. Para isso, seria necessária uma ação conjunta entre governos, empresas e sociedade: agricultura sustentável, restauração de ecossistemas, energia limpa, menos desperdício e produtos mais duráveis.
Os pesquisadores defendem ainda a revisão de modelos econômicos, com menos foco exclusivo no PIB e mais peso ao bem-estar social e ambiental. Também pedem o fim de subsídios nocivos — como os destinados a combustíveis fósseis — e mudanças nos padrões de consumo. Se essas transformações forem implementadas, os benefícios econômicos poderiam alcançar US$ 20 trilhões anuais até 2070, chegando a US$ 100 trilhões nos anos seguintes.
Investir para evitar o pior
O estudo calcula que seriam necessários cerca de US$ 8 trilhões por ano para restaurar a biodiversidade e zerar as emissões líquidas até 2050. Embora alto, o valor é modesto diante do prejuízo acumulado pela inação: eventos extremos — enchentes, incêndios e tempestades — já provocaram perdas de US$ 143 bilhões nas últimas duas décadas.
A poluição do ar também pesa. Em 2019, os danos à saúde causados pela má qualidade do ar custaram 6% do PIB global, o equivalente a US$ 8 trilhões. Até 2060, esse impacto pode atingir entre US$ 18 trilhões e US$ 25 trilhões anuais.
Avanços tímidos e obstáculos políticos
Mesmo com 2025 marcado por avanços e retrocessos, Andersen diz manter algum otimismo sobre a capacidade de cooperação internacional. Ela reconhece que os países ainda não se movem no ritmo necessário para cortar emissões, mas observa que o cenário atual é menos pessimista do que o previsto antes do Acordo de Paris, em 2015.
A diretora, porém, lamenta o impasse da COP30, realizada em Belém, que não chegou a consenso sobre a eliminação progressiva do petróleo, carvão e gás. Ainda assim, ela aposta na conferência liderada por Holanda e Colômbia, prevista para abril, como nova chance de acelerar essa transição.
Motivos para acreditar
Para 2026, Andersen vê sinais encorajadores: energias solar e eólica já são competitivas e mais baratas que os combustíveis fósseis. Ela cita o exemplo do Texas, que, mesmo sendo um polo petroleiro, obtém 40% da energia que consome de fontes renováveis. Para ela, esse avanço mostra um setor “imparável”.
Outro fator que a anima é a mobilização de diferentes grupos — empresas, jovens, cientistas e líderes religiosos — pressionando por medidas mais firmes contra a crise climática. “Existem soluções, e milhões de pessoas as estão exigindo”, afirma.
O voto como ferramenta de futuro
Andersen diz esperar que esse movimento se traduza em decisões políticas mais ousadas. E deixa um recado: ao votar, pense também nos mais jovens. “Leve seu neto, sua filha, ou os sonhos das crianças em mente ao entrar na cabine. Vote por eles e pelo futuro que queremos deixar.”
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