Levantamento realizado em nove países da União Europeia indica percepção crescente de risco de guerra nos próximos anos, especialmente no Leste do continente
Mais da metade dos cidadãos ouvidos em nove países da União Europeia avalia como alto o risco de um confronto armado entre seus países e a Rússia. É o que mostra uma pesquisa de opinião conduzida pela consultoria Cluster 17 e divulgada nesta quinta-feira (4) pelo jornal francês Le Grand Continent.
Segundo o estudo, 51% dos entrevistados classificam como “elevada” ou “muito elevada” a possibilidade de a Rússia entrar em guerra com o país onde vivem nos próximos anos. Ao todo, foram ouvidas cerca de 9,5 mil pessoas no fim de novembro, em Portugal, França, Alemanha, Itália, Espanha, Polônia, Croácia, Bélgica e Holanda.
Guerra na Ucrânia amplia sensação de insegurança
A percepção de ameaça ganhou força após a invasão da Ucrânia por forças russas, iniciada em 2022, episódio que reacendeu o temor de expansão do conflito para outros países europeus. O cenário foi reforçado por declarações recentes do presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou estar “pronto” para um eventual enfrentamento com a Europa.
Avaliações militares também contribuem para o clima de apreensão. No mês passado, o general francês Fabien Mandon afirmou que Moscou se prepara para um novo conflito armado até 2030. Relatórios estratégicos do Exército da Alemanha, por sua vez, indicam que um confronto entre a Rússia e países da Organização do Tratado do Atlântico Norte pode ocorrer antes de 2029.
Polônia lidera percepção de risco; Itália diverge
Os níveis de apreensão variam significativamente entre os países analisados. Na Polônia, que faz fronteira com territórios estratégicos russos e com Belarus, aliada de Moscou, 77% dos entrevistados consideram alto ou muito alto o risco de guerra.
Na França, 54% compartilham dessa avaliação, percentual que cai levemente na Alemanha, com 51%. Em direção oposta, a Itália se destaca como exceção: 65% dos italianos afirmam enxergar o risco de um conflito europeu como “muito baixo” ou inexistente.
Conflito com a China é visto como improvável
Apesar do temor em relação à Rússia, a pesquisa aponta percepção bem diferente quando o assunto é a Ásia. Para 81% dos europeus ouvidos, a chance de um confronto militar com a China é considerada pequena ou inexistente no curto e médio prazo.
Confiança na defesa nacional é limitada
Em meio ao debate sobre fortalecimento das Forças Armadas e possíveis mudanças no serviço militar — especialmente na França e na Alemanha —, o levantamento revelou ceticismo generalizado em relação à capacidade defensiva dos países europeus.
No total, 69% dos entrevistados afirmaram que seus exércitos são “incapazes” ou “possivelmente incapazes” de resistir a um ataque russo. A França, única entre os países pesquisados a possuir arsenal nuclear, apresentou a visão menos pessimista: 44% dos franceses acreditam que o país teria condições “boas” ou “razoáveis” de se defender.
No extremo oposto aparecem Bélgica, Itália e Portugal, onde entre 85% e 87% dos entrevistados disseram não confiar na capacidade militar nacional diante de um eventual confronto com Moscou.
Terrorismo segue como ameaça imediata
Embora o risco de guerra entre Estados seja um tema central, o terrorismo continua ocupando o topo das preocupações imediatas da população europeia. De acordo com o estudo, 63% dos entrevistados nos nove países classificam como elevada ou muito elevada a ameaça de ataques promovidos por grupos extremistas, superando, no curto prazo, o temor de conflitos entre potências.



