Enquanto líderes mundiais se reúnem em Belém para a COP30, cientistas alertam que o planeta caminha para ultrapassar o limite de 1,5 °C, com impactos devastadores para a humanidade e os ecossistemas.
Do entusiasmo em Paris ao alerta vermelho global
Quando o martelo bateu selando o Acordo de Paris, em 2015, o plenário da COP21 foi tomado por aplausos, lágrimas e abraços entre líderes mundiais. Era o início de uma nova era de cooperação internacional para conter o aquecimento global. Quase 200 países haviam assumido um compromisso inédito: manter o aumento da temperatura média do planeta bem abaixo de 2 °C, com esforços concentrados em limitar o avanço a 1,5 °C.

Os cientistas consideravam esse limite uma linha de defesa essencial contra os piores efeitos das mudanças climáticas. Hoje, a própria ONU reconhece que ultrapassá-lo é “inevitável”, com consequências que podem ser “devastadoras”.
Apesar de avanços pontuais desde aquele marco histórico, especialistas alertam que o mundo está novamente diante de uma encruzilhada. A continuidade do uso de combustíveis fósseis – petróleo, gás e carvão – tem elevado as temperaturas globais, provocando desastres naturais cada vez mais intensos, como tempestades, enchentes e ondas de calor.
Década mais quente e perdas crescentes
A última década foi a mais quente desde o início dos registros. E o ano passado, ainda mais extremo, consolidou a tendência. De acordo com cientistas, cada fração de grau adicional faz diferença entre a sobrevivência e o sofrimento de milhões de pessoas.
O aumento do calor já é responsável por cerca de uma morte por minuto, enquanto a poluição do ar associada à queima de combustíveis fósseis mata 2,5 milhões de pessoas anualmente. O impacto econômico também é expressivo: em 2024, as perdas globais chegaram a US$ 304 bilhões (R$ 1,6 trilhão).
Além disso, ecossistemas inteiros estão sob risco. O mundo ultrapassou recentemente seu primeiro “ponto de inflexão” climático — um limite além do qual as mudanças tornam-se irreversíveis — com o aquecimento dos oceanos provocando a morte em massa de corais, fundamentais para a vida marinha. Outros sistemas vitais, como a Floresta Amazônica e as correntes oceânicas do Atlântico, estão próximos de colapsar.
Avanços na energia limpa
Mesmo com o atraso geral nas metas, alguns avanços significativos merecem destaque. O setor de energias renováveis vive uma expansão acelerada. Desde o Acordo de Paris, a participação dessas fontes na matriz energética global mais que triplicou. Em 2024, o mundo registrou o maior crescimento de geração limpa da história: as renováveis já respondem por 40% da eletricidade global, e, pela primeira vez, a produção solar e eólica superou a gerada por carvão.
A capacidade solar global é hoje mais de quatro vezes superior à projetada em 2015, dobrando a cada três anos. A energia eólica também triplicou no mesmo período, segundo levantamento da Energy and Climate Intelligence Unit. A China lidera a transição: em 2024, instalou mais capacidade solar do que o restante do mundo somado.
No setor automotivo, a eletrificação avança rapidamente. A fatia dos veículos elétricos saltou de 1% para quase 25% das vendas globais, aproximando-se da meta de 100 milhões de unidades em circulação até 2030.
Contradições no caminho verde
Apesar do progresso, o cenário ainda é contraditório. O uso global de carvão atingiu um recorde histórico em 2024, e o financiamento público aos combustíveis fósseis cresceu para US$ 1,6 trilhão (R$ 8,4 trilhões) anuais — valor que ofusca o investimento em energia limpa.
Para especialistas, a transição energética global só será efetiva quando a substituição das fontes poluentes superar, em ritmo e volume, a expansão do consumo.
Desafio de cumprir as metas do século
Com a COP30 em Belém, o desafio é renovar o compromisso político e acelerar ações concretas. Estimativas indicam que, mantendo o ritmo atual, o planeta pode chegar ao fim do século com um aumento de 2,6 °C — suficiente para gerar 57 dias adicionais de calor extremo por ano.
As promessas de redução de emissões até agora apresentadas pelos países equivalem a apenas 10% de corte até 2035. O relatório Estado da Ação Climática, do think tank Climate Analytics, reforça que o mundo precisa agir dez vezes mais rápido na eliminação do carvão, multiplicar por nove os esforços contra o desmatamento e dobrar o ritmo de expansão das energias renováveis.
O estudo também pede um aumento de quase US$ 1 trilhão anuais em financiamento climático e a expansão urgente de sistemas de transporte público nas cidades mais poluentes.
A mensagem é clara: a janela para conter o colapso climático está se fechando — e a COP30 pode ser a última chance real de reverter esse curso.
( Com DW )



