Há palavras que parecem simples, mas carregam dentro delas o peso e a leveza de uma vida inteira. Tolerância é uma delas.
Muitos pensam que tolerar é suportar. Mas, com o tempo, a gente descobre que tolerar é amar em silêncio. É compreender o outro no ritmo que ele consegue caminhar, mesmo quando o nosso coração gostaria que ele corresse.
A vida nos ensina que ninguém floresce no mesmo tempo. Há sementes que brotam logo ao primeiro raio de sol; outras precisam enfrentar noites longas de espera. E é nessa espera que mora a verdadeira paciência.
Percebo, hoje, que a intolerância se manifesta nas pequenas coisas. Quando quero que as coisas sejam do meu jeito. Quando me impaciento diante das limitações alheias. Quando esqueço que o outro é, simplesmente, outro — com sua história, seus medos, seus aprendizados.
Um olhar impaciente, um silêncio carregado, uma palavra dita às pressas… são nesses gestos que a intolerância se esconde.
Julgar é fácil. Amar é que é trabalho de alma.
Já me vi julgando quem pensa diferente de mim, quem apoia ideias contrárias, quem busca alegria em festas que eu não compreenderia. Até perceber que, em cada julgamento, há um espelho mostrando o quanto ainda preciso crescer.
Cada coração está em uma etapa da jornada. E, assim como a semente precisa de tempo para virar fruto, o espírito precisa de paciência para entender, servir e amar.
No livro Pensamento e vida, Emmanuel nos diz: “Pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que o mundo se adaptasse aos nossos caprichos, quando é nossa obrigação adaptar-nos, com dignidade, ao mundo, dentro da firme disposição de ajudá-lo.”
Essa frase ecoou fundo.
Adaptar-se não é se curvar — é agir com humildade, sem perder a luz interior. É conviver no mundo sem ser do mundo. É compreender sem concordar, ajudar sem impor, seguir firme sem endurecer.
Mas também aprendi que há limites. Adaptar-se ao erro, à injustiça, à mentira — não é tolerância, é omissão. A tolerância verdadeira não se confunde com conivência. Ela é firmeza serena: o equilíbrio entre ceder e manter a fé.
Tenho procurado silenciar antes de reagir. Respirar fundo antes de responder. Ouvir mais do que falar.
Tenho buscado ver o lado bom — nas pessoas, nas situações, até nas contrariedades. Porque sempre há um ensinamento escondido por trás daquilo que, à primeira vista, parece incômodo.
E tenho descoberto que ler uma mensagem edificante todo dia — e deixar que ela entre devagar no coração — muda a forma como vejo o mundo. Aos poucos, a paz vai se instalando como quem chega e decide ficar.
O livro Pensamento e Vida, em sua lição “tolerância” me tocou profundamente. Ela me lembrou que o tempo de Deus não é o nosso, e que cada alma caminha com passos próprios.
Tolerar é perdoar sem dizer. É ajudar sem alarde. É servir sem esperar gratidão. É compreender o outro como ele é, não como gostaríamos que fosse.
No fundo, a tolerância é a flor mais discreta do jardim da alma — mas é ela que perfuma o ambiente da convivência.
Hoje entendo que a verdadeira tolerância é filha da caridade. Só quem ama de verdade suporta sem condenar, corrige sem ferir e compreende sem exigir.
E quando o coração aprende a tolerar, a vida se torna mais leve. O mundo deixa de ser uma arena e vira um campo de aprendizado.
Talvez seja isso que Jesus quis dizer quando falou sobre amar o próximo. Porque amar é tolerar com serenidade — e tolerar é o primeiro passo para amar de verdade.

Mais que histórias, as crônicas de Wilton Emiliano Pinto são pedaços de vida oferecidos em forma de palavra.



