Ex-presidente dos EUA combina vitórias e recuos no tabuleiro global, com destaque para a pressão sobre Israel e dificuldades na relação com China e Rússia
A lógica da influência global
Donald Trump, que construiu sua trajetória no mercado imobiliário, sempre defendeu que o sucesso nesse setor se resume a um fator: localização. Na política internacional, porém, a palavra-chave muda. O que define poder não é endereço, mas alavancagem. A habilidade de impor custos ao adversário e moldar resultados.
Sob essa perspectiva, o ex-presidente americano conquistou um cessar-fogo em Gaza ao ampliar sua influência sobre Israel e o Hamas. Por outro lado, falhou em encerrar o conflito na Ucrânia ao evitar exercer todo o peso que ainda detém sobre Vladimir Putin. Na China, tentou conter o avanço industrial e o surplus exportador com tarifas ruidosas e improvisadas, mas obteve avanços modestos. Apesar de reafirmar sua proximidade com Xi Jinping em encontro recente, apenas restaurou um equilíbrio que ele próprio havia abalado meses antes, segundo análise publicada pelo Wall Street Journal.
Em uma analogia esportiva, seu desempenho poderia ser considerado excelente em beisebol, mas insuficiente para os padrões complexos da geopolítica contemporânea.
Modelo econômico chinês sob pressão
A China enfrenta um cenário de enfraquecimento do consumo interno após o colapso do seu mercado imobiliário. Em vez de priorizar estímulos domésticos, o governo intensificou sua dependência de exportações, reacendendo tensões internacionais.
Trump, embora identifique um problema concreto, tem respondido com uma estratégia ruidosa e descoordenada. Tarifas anunciadas de forma pública e sem planejamento deram espaço para retaliação. A China domina cadeias estratégicas como minerais críticos, refino e produção de ímãs de terras raras, essenciais para veículos elétricos, semicondutores, turbinas e sistemas militares. Quando Pequim acenou com restrições, Washington recuou, reduzindo tarifas e postergando barreiras tecnológicas.
Falta de estratégia integrada nos EUA
A proteção à indústria nacional contra o excesso de produção subsidiada chinesa é considerada legítima por diversos especialistas. Entretanto, tarifas só funcionam quando inseridas em um plano coordenado, com incentivos à inovação, fortalecimento de alianças e políticas industriais robustas.
Durante sua gestão, Trump elevou custos de insumos, endureceu regras de imigração qualificada, reduziu investimentos públicos em pesquisa e gerou atritos com parceiros estratégicos, o que limitou a capacidade americana de competir.
Riscos também para Pequim
A postura de Xi Jinping também envolve custos. A ameaça de restringir exportações críticas acelerou iniciativas globais para diminuir a dependência de fornecedores chineses. Com a inteligência artificial transformando a indústria e o emprego em escala mundial, líderes políticos dificilmente aceitarão que Pequim permaneça como eixo único da manufatura global.
O risco de ruptura total
Por décadas, o equilíbrio entre Estados Unidos e China sustentou avanços econômicos e estabilidade internacional. Esse modelo exige diálogo progressivo e discreto, não confrontos comerciais impetuosos e unilaterais.
Caso o mundo avance para um divórcio econômico completo, os efeitos podem ser profundos. E a sensação de perda será sentida em ambos os lados do Pacífico, com impacto direto sobre crescimento, inovação e segurança global.
( Com The New York Times )


