Especialistas destacam que escolhas diárias ajudam a reduzir emissões e criar cultura sustentável
O impacto crescente do clima extremo
O aquecimento global deixou de ser uma previsão distante e já molda a vida cotidiana. Ondas de calor mais severas, estiagens prolongadas, tempestades intensas, perda de biodiversidade e a elevação do nível do mar são efeitos visíveis em várias regiões do planeta. No Brasil, enchentes no Sul e queimadas no Cerrado e na Amazônia ilustram um cenário que tende a piorar sem mudanças profundas na relação da sociedade com o meio ambiente.
Embora políticas públicas e medidas empresariais sejam essenciais na redução de emissões, especialistas reforçam que o engajamento individual também importa. A forma como cada pessoa consome, se locomove, se alimenta e lida com resíduos tem influência real sobre o clima.
“Buscar dias com menos emissões pode parecer pouco diante do impacto das grandes empresas, mas cada atitude aumenta a consciência própria e inspira quem está por perto”, afirma Marcus Nakagawa, presidente da Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (Abraps).
Mobilidade e transporte
O transporte responde por uma fatia significativa das emissões globais. Estudos da Confederação Nacional do Transporte (CNT) indicam que um carro a gasolina emite mais de cinco vezes o CO₂ de um ônibus urbano por passageiro transportado. No transporte aéreo, o impacto também é expressivo, com o setor responsável por cerca de 3% das emissões globais.
Sempre que possível, optar por caminhar, pedalar ou usar transporte público é a recomendação de especialistas. Quando o carro for inevitável, dividir viagens com outras pessoas ou escolher etanol em vez de gasolina ajuda a reduzir o impacto. Reuniões remotas também podem substituir deslocamentos longos.
Consumo consciente
O consumo excessivo pressiona os recursos naturais e aumenta a geração de resíduos. A indústria da moda, por exemplo, responde por aproximadamente 10% das emissões globais. A orientação é clara: comprar menos e melhor. Itens duráveis, reutilizáveis e de produção sustentável devem ser prioridade, assim como o apoio a pequenos produtores locais.
“O primeiro passo é não ser refém de tendências. Valorizar produção local e escolhas conscientes otimiza o uso de recursos naturais”, diz Talita Martins, do Instituto Brasileiro de ESG.
Desperdício de alimentos
O Brasil desperdiça cerca de 46 milhões de toneladas de comida por ano, segundo o IBGE. Além da perda de alimentos, o descarte incorreto gera metano, gás com alto potencial de aquecimento global. Planejamento de compras, aproveitamento total de ingredientes e armazenamento adequado reduzem desperdícios.
Compostagem doméstica também evita que resíduos orgânicos sigam para aterros. Dietas com menos produtos ultraprocessados ajudam ainda mais, já que sua produção é altamente poluente.
Redução do consumo de carne
Com um rebanho bovino superior à população do país, a pecuária representa uma das principais fontes de metano no Brasil. Reduzir o consumo de carne, mesmo que em algumas refeições semanais, já gera impacto positivo. “Não se trata de cortar completamente, mas de consumir com moderação e atenção à origem”, explica Nathalia Weber, da CCS Brasil.
Economia de energia e água
Apesar da matriz energética brasileira ser majoritariamente renovável, o consumo elevado pode aumentar o uso de termelétricas. Substituir lâmpadas, desligar aparelhos da tomada e adotar energia solar quando possível são medidas eficazes.
Na água, o foco é evitar desperdícios: banhos mais curtos, reparo de vazamentos e reaproveitamento da água da chuva são práticas simples que contribuem para a preservação.
Menos plástico, mais reciclagem
Plásticos descartáveis consomem petróleo e se acumulam no ambiente por séculos. Sacolas reutilizáveis, garrafas duráveis e recipientes de vidro ou metal ajudam a reduzir o uso desses materiais. Separar o lixo e buscar sistemas de coleta seletiva no condomínio também faz diferença.
Consciência e educação ambiental
Para que mudanças individuais ganhem força, informação é essencial. “É preciso engajar outras pessoas, entender o tema e votar em líderes comprometidos com a pauta climática”, afirma Nakagawa. Sem conhecimento, atitudes sustentáveis se tornam pontuais, não culturais.
A adaptação ao clima extremo exige ações coletivas e poder público, mas começa com escolhas simples: menos consumo, menos desperdício e mais responsabilidade ambiental no dia a dia.
			
                                
	
	

