Casa Branca endurece postura e mira mudança de regime; chavismo admite negociar, mas impõe condições para deixar o poder
Escalada militar e cenário de confronto
O governo dos Estados Unidos intensificou, nos últimos dois meses, a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, marcando o momento mais tenso das relações bilaterais em mais de duas décadas de chavismo. Sob o discurso de combate ao narcotráfico, a administração Donald Trump aposta em ações militares para forçar uma mudança de regime em um país estratégico, dono das maiores reservas de petróleo do planeta e aliado de potências como Rússia, China, Irã e Turquia.
Diferente de seu primeiro mandato, quando priorizou sanções econômicas e o apoio a Juan Guaidó, Trump estaria agora disposto a autorizar ataques diretos a estruturas militares venezuelanas, segundo veículos de imprensa dos EUA. O presidente, contudo, negou essa intenção publicamente na sexta-feira.
Apesar do clima de tensão e da baixa perspectiva de diálogo, aliados do governo venezuelano afirmam que Maduro não descarta negociar. A conta, porém, viria com exigências elevadas: participação em eventual transição política, anistia a integrantes de seu governo, garantia de relevância política e manutenção de áreas estratégicas sob controle chavista. Segundo interlocutores em Caracas, o presidente não pretende repetir o destino de Bashar al-Assad, nem aceitar um exílio confortável em Moscou ou menos glamouroso em Havana. A orientação interna segue firme: resistir.
De negociações à ruptura na diplomacia
Nos primeiros meses deste novo governo Trump, contatos diretos chegaram a ocorrer entre Washington e Caracas, com o ex- enviado especial Richard Grenell à frente das conversas. Os diálogos focaram deportações de venezuelanos em situação irregular e concessões petrolíferas, o que resultou em retomada de voos de repatriamento e na renovação, em condições mais duras para o lado venezuelano, da licença da petroleira Chevron.
Com o enfraquecimento de Grenell, Marco Rubio assumiu protagonismo na política externa para a Venezuela, impulsionando a estratégia de pressão máxima. Aliados do senador reforçam que o objetivo atual é remover o chavismo “na marra”, abandonando qualquer tentativa de acordo que não inclua a saída imediata de Maduro.
Condições impostas pelo chavismo
A cúpula governista sinaliza que só aceita negociar se houver garantias de sobrevivência política e institucional do movimento fundado por Hugo Chávez. A prioridade seria uma saída gradual, preservando parte da máquina estatal e cargos regionais. Evitar prisões de figuras centrais do regime também é ponto essencial.
O chavismo trata como inegociáveis dois pilares: o controle estatal majoritário sobre o petróleo e a autonomia das Forças Armadas, hoje organizadas como Força Armada Nacional Bolivariana. Maduro e seus aliados rejeitam qualquer participação militar norte-americana no processo. Para Caracas, apenas um “pouso suave” evitaria uma ruptura traumática.
Já em Washington, analistas apontam que a estratégia de enfrentamento direto dificilmente abrirá espaço para diálogo. Tentativas de governos anteriores, inclusive o de Joe Biden, falharam em dividir a elite militar venezuelana, que segue coesa e sem sinais de ruptura interna.
Apoio externo e temor de invasão
Mesmo com forte rejeição interna ao governo Maduro, a população venezuelana não demonstra apoio majoritário a uma intervenção norte-americana, apontam fontes políticas no país. Ainda assim, a pressão externa aproximou Caracas de aliados internacionais. Rússia e China já sinalizaram apoio diante do aumento das ameaças, e novos carregamentos de armamentos russos teriam chegado ao país recentemente.
Brasil e Colômbia, que antes questionavam a legitimidade eleitoral de Maduro, agora defendem uma saída diplomática, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo uma solução “política e negociada”.
Oposição insiste na saída imediata
A liderança opositora María Corina Machado afirma que qualquer negociação só deve partir do reconhecimento da vitória dos opositores na eleição de 2024. Ela admite discutir garantias ao chavismo, mas rejeita período de transição:
“A saída de Maduro deve ser imediata”, declarou.
Perspectivas incertas
O impasse se aprofunda. Maduro evita responder militarmente aos ataques americanos registrados no Caribe, mas fontes próximas ao governo alertam que uma agressão em território venezuelano terá resposta proporcional. Ainda que o desgaste político do chavismo seja evidente, o cálculo interno segue o mesmo: para Maduro e seu círculo, os custos de sair do poder ainda superam os de permanecer.
Palavra final? O relógio corre, mas ninguém recua. E o continente observa, tenso, um tabuleiro onde petróleo, geopolítica e poder falam mais alto que qualquer promessa de diálogo.



