Diplomacia brasileira espera participação argentina, mas postura de Milei e boicote dos EUA aumentam dúvidas
Credenciamento não garante presença
A COP30, conferência climática da ONU marcada para começar no dia 10 em Belém, já conta com 191 países registrados, entre eles a Argentina. O dado foi confirmado pela CEO do evento, Ana Toni, em entrevista à Folha. “A Argentina está entre os países credenciados, então devem vir”, disse. O credenciamento, porém, reflete apenas a intenção de acompanhar as negociações, sem assegurar presença. Até esta quinta-feira (30), 149 nações tinham reservado acomodações oficiais.
Apesar da inscrição formal, o envio de representantes argentinos ainda é incerto. Integrantes da diplomacia brasileira avaliam que Buenos Aires pode comparecer com uma delegação reduzida ou de baixo escalão.
Contexto político e relação com os EUA
A indefinição é reforçada pelo alinhamento do presidente argentino, Javier Milei, ao governo de Donald Trump, que voltou ao comando dos Estados Unidos. Trump, maior referência global do negacionismo climático, mantém postura de boicote às discussões ambientais. Os EUA, historicamente o maior emissor de gases de efeito estufa, já comunicaram que não enviarão delegação ao Brasil, segundo a Reuters.
Mesmo convidado diversas vezes pelo presidente Lula, Trump ignorou os pedidos e deixou de participar das principais reuniões preparatórias da COP30, como o encontro em Bonn, na Alemanha, e a pré-COP em Brasília, ambos realizados neste ano.
Entre suas primeiras decisões após reassumir a Casa Branca em 2023, Trump anunciou novamente a retirada dos EUA do Acordo de Paris e acelerou ações para favorecer combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que reduziu incentivos a iniciativas sustentáveis e de energia renovável.
Estratégia brasileira e atuação subnacional
Diante da posição da Casa Branca, o Brasil buscou articulação direta com governadores e autoridades norte-americanas alinhadas à agenda ambiental. A Califórnia, liderada pelo democrata Gavin Newsom, firmou parceria com o governo brasileiro sobre transição energética e mercado de carbono. Uma comitiva californiana e representantes de outros governos locais dos EUA são esperados em Belém.
A diplomacia brasileira avalia que a ausência formal dos EUA pode até favorecer o avanço de acordos, evitando bloqueios costumeiros da delegação americana em temas sensíveis da agenda climática.
Como destacou Ana Toni, “os EUA infelizmente resolveram sair do Acordo de Paris, mas temos 197 países que estão participando”. Segundo ela, o temor de que outros governos seguissem a posição norte-americana não se confirmou.
Argentina tenta limitar debates
No caso argentino, além das incertezas políticas, o histórico recente em negociações climáticas pesa. A delegação do país participou do encontro em Bonn, mas se ausentou da reunião em Brasília. Quando presente, Buenos Aires foi marcada por tentativas de restringir discussões sobre gênero, propondo limitar o conceito à divisão biológica entre homens e mulheres.
A posição gera preocupação entre diplomatas brasileiros, que articulam uma frente latino-americana e caribenha para fortalecer consensos regionais e reduzir obstáculos durante a COP30.



