Presidente americano usa tom de ultimato e afirma que “não teremos escolha a não ser matá-los” se o grupo extremista continuar a violar o acordo de cessar-fogo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou o tom da retórica nesta quinta-feira (16) ao dar um ultimato ao Hamas, alertando que o exército americano pode intervir e retomar ações militares no enclave, caso o grupo extremista persista na violação do acordo de cessar-fogo em Gaza.
A declaração foi proferida na tarde de ontem, e ocorre após o Hamas ter promovido execuções públicas de indivíduos em Gaza, acusando-os de colaboração com Israel.
“Não teremos escolha a não ser matá-los”
Esta não é a primeira ameaça recente do republicano. Na quarta-feira (15), Trump já havia sinalizado que Israel poderia retomar os combates se os termos do acordo de trégua não fossem integralmente cumpridos.
Nesta quinta, ele foi mais incisivo, ligando a continuidade dos assassinatos à intervenção. “Se o Hamas continuar a matar pessoas em Gaza, o que não era o acordo, não teremos escolha a não ser entrar e matá-los. Agradecemos a sua atenção a este assunto!”, afirmou Donald Trump.
Execuções e acusações contra clãs locais
Dias após o cessar-fogo entrar em vigor, o Hamas assassinou diversas pessoas em vias da Cidade de Gaza e divulgou vídeos dos atos em plataformas digitais. Um dos vídeos verificados pela rede britânica BBC mostra oito homens, vendados e desarmados, sendo baleados por extremistas em uma “execução pública”, na área central da cidade, diante de testemunhas. As imagens foram publicadas pelo canal de TV al-Aqsa, que pertence ao Hamas.
O grupo extremista acusa as vítimas de pertencerem a clãs que estariam colaborando com Israel. A agência de notícias RFI, porém, reportou que os mortos são membros de milícias e clãs rivais, todos de famílias tradicionais de Gaza, que se mantêm armadas.
A Autoridade Palestina (AP) condenou veementemente as execuções. Em nota oficial assinada pelo presidente Mahmoud Abbas, a AP classificou os atos como “crimes hediondos”, cometidos “fora da estrutura da lei e sem julgamento justo”.
Até o momento, não há um número oficial de vítimas. O portal israelense Ynet mencionou que pelo menos 52 pessoas de um único clã, o Dagmoush, teriam sido mortas. A Autoridade Palestina reporta “dezenas” de vítimas.
A nota da AP também acusa o Hamas de tentar estabelecer controle total sobre a Faixa de Gaza, “obstruindo a reconstrução” pós-conflito. “Restaurar o estado de direito e as instituições legítimas é o único caminho para acabar com o estado de caos”, diz o comunicado.
Por sua vez, Israel sustenta que não há “vácuo” de poder em Gaza, e que o Hamas reassumiu a autoridade local nas maiores cidades do território. A movimentação ocorreu após os militares israelenses recuarem para a “Linha Amarela”, conforme determinado no acordo mediado pelos EUA.
Disputa de poder entre Hamas e clãs
Os confrontos e execuções recentes expõem a fragilidade do cessar-fogo e a disputa interna pelo comando de Gaza. De acordo com a agência de notícias Reuters, ao menos quatro grandes clãs se opõem à hegemonia do Hamas no enclave, cenário que se intensificou após dois anos de guerra.
Entre os principais grupos rivais está o clã Doghmoush, que se envolveu em disputas com o Hamas no último fim de semana. Seus membros possuem afiliações diversas, incluindo facções ligadas ao próprio Hamas e ao Fatah. Outros grupos com forte presença local incluem o clã Abu Shabab, de origem beduína, que disputa o comando na área de Rafah, e o clã Al-Majayda, em Khan Younis. O clã de Rami Hellis, abertamente contrário ao Hamas, opera na vizinhança de Shejaia, sob controle do Exército de Israel.
Apesar da oposição ao Hamas, nenhum desses grupos assume publicamente qualquer ligação direta com Israel.
Reversão do acordo e reféns
O acordo de cessar-fogo, proposto por Trump e aceito pelas partes, previa, entre outros pontos, o desarmamento completo do grupo extremista e a entrega dos corpos dos reféns em poder do Hamas.
No tocante aos reféns, a entrega tem sido parcial. Quatro corpos foram transferidos até o momento. Israel, no entanto, informou nesta quarta-feira que um deles seria de um palestino, e não de um refém israelense. As famílias dos reféns ainda aguardam a devolução de outros 24 ou 25 corpos, dependendo da confirmação da identidade da quarta vítima. Forças do Egito teriam entrado na Faixa de Gaza para auxiliar nas buscas pelos restos mortais, de acordo com o canal saudita Al Arabiya.