Após derrotas no Congresso, Planalto mira cargos estratégicos do banco estatal; mudanças atingem indicados de partidos do Centrão e reforçam controle político da ministra Gleisi Hoffmann.
Planalto avança na reestruturação política do banco
Depois de iniciar um processo de reorganização da base aliada com a demissão de indicados por ex-aliados, o Palácio do Planalto agora foca em uma nova frente: a Caixa Econômica Federal. O governo deve promover trocas em parte das 12 vice-presidências do banco, considerado um dos espaços mais cobiçados pelo Centrão.
Além das substituições em cargos de assessoria, já houve mudanças na Vice-Presidência de Sustentabilidade e Cidadania Digital. A movimentação, conduzida sob reserva, foi discutida em reunião entre a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann (PT), e o presidente da Caixa, Carlos Antônio Vieira Fernandes — indicado pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que por enquanto permanece no cargo.
Funcionários ligados a parlamentares considerados infiéis, no entanto, devem ser exonerados.
Reação à derrota da MP e fortalecimento do controle político
O movimento integra o pente-fino autorizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a derrota na Câmara dos Deputados, que rejeitou a medida provisória alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Em entrevista ao Globo, Gleisi classificou como “natural” a demissão de aliados que não estejam comprometidos com o projeto de reeleição de Lula.
Atualmente, as vice-presidências da Caixa são ocupadas por nomes ligados ao PP, PDT e Republicanos. Alguns cargos são considerados intocáveis, como o de Inês Magalhães, responsável pela área de Habitação e indicada diretamente por Lula para o programa Minha Casa, Minha Vida.
Lira poupado, mas aliados são atingidos
Além de se reunir com Fernandes, Gleisi também conversou com Arthur Lira nesta semana. Segundo interlocutores, o encontro tratou de cargos do PP de forma geral, sem foco específico na Caixa. Lira não participou da votação da MP, o que evitou retaliações diretas.
Já José Trabulo Júnior, ligado ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), foi exonerado do cargo de consultor da presidência da Caixa. Também houve substituição na vice-presidência de Sustentabilidade e Cidadania Digital: Rodrigo Lemos deixou o posto, assumido interinamente por Jean Rodrigues Benevides.
Apesar da ligação de Lemos ao PL, o líder da sigla na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), negou envolvimento na indicação.
Governistas buscam preservar aliados estratégicos
Parte da base petista defendeu uma ação mais dura contra Lira, incluindo a revisão dos acordos que lhe garantiram espaço no governo, como o comando da Caixa. Gleisi, no entanto, resistiu. A justificativa foi de que Lira se absteve da votação mesmo com o PP orientando contra o governo.
Em contraste, o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem sido visto com bons olhos no Planalto. Ele teria tentado mediar uma alternativa para salvar a MP e, em contrapartida, mantém influência na Vice-Presidência de Governo da Caixa.
Retaliações se estendem a outros órgãos
A ofensiva política não se limita à Caixa. Deputados de partidos que votaram contra o governo começaram a perder cargos em outras áreas da administração federal.
O líder do União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), teve a irmã exonerada da superintendência do Iphan no Maranhão. Já Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE) perdeu a chefia da coordenação estadual do Dnocs em Sergipe.
O Republicanos também foi atingido no Departamento de Obras Hídricas, ligado ao Ministério da Integração Nacional. O ex-deputado Gil Cutrim (MA) negou ter feito a indicação que resultou em exoneração.
O deputado Arthur Maia (União-BA) reagiu publicamente à saída de um aliado da Codevasf, elogiando o trabalho do ex-superintendente Harley Xavieer em vídeo publicado nas redes sociais.
PSD e MDB também perdem espaço
As mudanças atingiram ainda indicações do PSD e do MDB. Superintendências do Dnit no Paraná, Maranhão, Pará e Minas Gerais foram alteradas após votos contrários de deputados dessas legendas à medida provisória.
Em Roraima, a deputada Helena Lima (MDB-RR) perdeu influência após a substituição da chefia regional do Dnit. Nenhum dos parlamentares ou líderes partidários citados se manifestou.
Clima de tensão na base aliada
Nos bastidores, integrantes do Centrão afirmam que a retirada de cargos é um movimento “pouco inteligente” e que pode dificultar votações futuras, especialmente na apreciação do Orçamento e de vetos presidenciais.
Mesmo assim, o Planalto dá sinais de que manterá a estratégia de alinhamento rígido. Como reforçou Gleisi Hoffmann, o governo não pretende sustentar aliados que votem contra suas pautas estratégicas.