Acordo prevê libertação de reféns e prisioneiros palestinos e abre caminho para cessar-fogo em Gaza
Celebrações em Gaza e Tel Aviv
Palestinos e familiares de reféns israelenses comemoraram na madrugada desta quinta-feira (9) o anúncio de que Israel e o grupo Hamas aceitaram o primeiro passo de um acordo de paz que pode encerrar a guerra na Faixa de Gaza. O plano, mediado por Estados Unidos, Catar, Egito e Turquia, prevê a libertação de todos os reféns — vivos ou mortos — e o retorno de prisioneiros palestinos.
Em Gaza, mesmo com ataques ainda registrados em alguns pontos do enclave, moradores foram às ruas para celebrar o anúncio. Jovens aplaudiram a notícia entre escombros e ruas destruídas após meses de bombardeios israelenses.
“Obrigado, Deus, pelo cessar-fogo, pelo fim do derramamento de sangue. Toda Gaza está feliz, todo o mundo está feliz”, disse Abdul Majeed Abd Rabbo, morador de Khan Younis, no sul do território.

Em Tel Aviv, a euforia também tomou conta da chamada Praça dos Reféns, onde familiares das vítimas do Hamas se reúnem desde o início da guerra. “Não consigo respirar, é uma loucura”, disse, emocionada, Einav Zaugauker, mãe de um refém. Fogos de artifício iluminaram o céu em meio aos gritos de celebração.
Entre os libertos, o ex-refém Omer Shem-tov se limitou a dizer: “Não tenho palavras para descrever isso”. Já o palestino Tamer Al-Burai, empresário deslocado da Cidade de Gaza, chorava de emoção: “Sobrevivemos. Queremos voltar, mesmo que nossas casas tenham sido destruídas. Dormir sem medo já é um começo.”
Segundo autoridades locais, mais de 67 mil pessoas morreram em Gaza desde o início da ofensiva israelense, e boa parte do território foi devastada. O conflito começou após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 pessoas em Israel e resultou no sequestro de 251 reféns. Estimativas israelenses apontam que cerca de 20 dos 48 reféns ainda mantidos em cativeiro seguem vivos.
Plano de 20 pontos e reações cautelosas
O acordo corresponde à fase inicial de um plano de 20 pontos proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após três dias de negociações indiretas realizadas no Egito. Apesar do otimismo, há desconfiança entre parte da população palestina sobre a execução do tratado.
Zakeya Rezik, 58 anos, mãe de seis filhos, afirmou estar aliviada por ver o fim da violência, mas teme não ter para onde voltar. “Nossa casa foi destruída. Mesmo que a guerra acabe, vamos continuar em barracas até que Gaza seja reconstruída, se o acordo realmente for cumprido”, disse.
O governo de Gaza, controlado pelo Hamas, orientou os moradores a não retornarem às áreas ainda sob controle israelense até que o cessar-fogo esteja oficialmente em vigor. O Exército israelense também alertou que o norte de Gaza continua sendo uma “zona de combate perigosa”.
Apoio internacional e apelos por reconstrução
A notícia do acordo foi recebida com entusiasmo por líderes e organismos internacionais. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que todas as partes cumpram o compromisso. “Todos os reféns devem ser libertados de forma digna. O cessar-fogo precisa ser permanente. O sofrimento deve acabar”, declarou.
Guterres classificou o momento como uma “oportunidade histórica” para viabilizar a solução de dois Estados e garantir segurança a israelenses e palestinos. O coordenador humanitário da ONU, Tom Fletcher, afirmou que as equipes das Nações Unidas já estão preparadas para enviar caminhões com alimentos e suprimentos essenciais a Gaza.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também saudou a resolução e elogiou os esforços diplomáticos. “Todas as partes devem respeitar integralmente os termos do acordo. O sofrimento deve acabar”, escreveu na rede X, reforçando o compromisso da União Europeia com a reconstrução do território palestino.
Reações globais e apoio a Trump
Líderes de todo o mundo expressaram apoio ao acordo. O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou estar “aliviado” e destacou o papel do Catar, Egito e Turquia nas negociações. “Após anos de sofrimento, a paz finalmente parece tangível”, declarou.
O presidente francês, Emmanuel Macron, descreveu o tratado como uma “imensa esperança” e disse que a França está pronta para ajudar na construção de uma solução política baseada em dois Estados. O espanhol Pedro Sánchez afirmou esperar que o pacto “marque o início de uma paz justa e duradoura”.
Na Alemanha, o chanceler federal Friedrich Merz comemorou o avanço e expressou confiança na implementação do acordo. Já o presidente argentino, Javier Milei, surpreendeu ao anunciar que vai indicar Donald Trump ao Prêmio Nobel da Paz, “em reconhecimento à sua extraordinária contribuição para a paz internacional”.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, classificou o anúncio como um “raio de esperança” e disse acreditar que, após décadas de conflito, o mundo “tem motivos reais para acreditar em um novo começo”.