Sob forte pressão diplomática dos Estados Unidos, governo israelense e Hamas iniciam primeira fase de plano que prevê cessar-fogo e devolução de reféns; líderes internacionais elogiam o avanço
Clima de expectativa em Tel Aviv e Jerusalém
Israel amanheceu nesta quinta-feira (9) em meio a um sentimento misto de esperança e ansiedade após o anúncio do acordo que prevê o retorno dos reféns israelenses mantidos em cativeiro pelo Hamas, em Gaza.
A movimentação é intensa na Praça dos Reféns, em Tel Aviv, e no Muro das Lamentações, em Jerusalém — locais que se tornaram símbolos de solidariedade e oração desde o início do conflito.
Sob intensa pressão diplomática do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Israel e o Hamas concordaram em implementar a primeira fase do plano que busca encerrar a guerra. A iniciativa gerou reações positivas de líderes globais e foi vista como um marco para uma possível trégua duradoura na região.
Expectativa pela libertação e retorno dos reféns
O Fórum dos Familiares dos Reféns enviou uma carta de agradecimento a Trump, convidando-o para discursar na Praça dos Reféns, em Tel Aviv.
Nas ruas, israelenses se abraçam e expressam emoção diante da expectativa de que, 734 dias após o início do cativeiro, os 20 reféns ainda vivos estejam prestes a voltar para casa. O psicólogo especializado em estresse pós-traumático Tuly Flint declarou à RFI que o país está prestes a iniciar “um processo de cura interna”.
Embora o acordo mencione um prazo de 72 horas para a libertação, ainda não há confirmação sobre o momento exato em que isso ocorrerá. Segundo informações da RFI, autoridades israelenses já começaram os preparativos em três hospitais da região central para receber os libertos.
A rede saudita Al-Arabiya informou que o Hamas iniciou a reunião dos reféns antes da devolução. Paralelamente, o Canal Público de Israel relatou que mediadores e equipes de negociação já discutem o cenário “do dia seguinte” à guerra na Faixa de Gaza.
Primeira fase do acordo: 48 reféns e libertação de prisioneiros palestinos
A etapa inicial do acordo prevê a libertação de 48 reféns israelenses, incluindo os 20 sobreviventes, até segunda-feira. Trump confirmou que não haverá cerimônia pública por parte do Hamas, ao contrário de ocasiões anteriores.
Os corpos dos reféns mortos serão entregues de forma gradual, pois o Hamas alega precisar de tempo para localizá-los. Em contrapartida, Israel deve libertar dois mil prisioneiros palestinos, excluindo membros da unidade de elite Nukhba, responsável pelo ataque de 7 de outubro de 2023.
A assinatura formal do acordo ocorreu em Charm el-Sheikh, no Egito, e será ratificada pelo gabinete israelense. Em seguida, está prevista a retirada das tropas da Faixa de Gaza. Trump foi convidado a discursar no Knesset, o Parlamento israelense, e confirmou ao Canal 12 sua presença no país.
Reações internacionais ao acordo
O anúncio foi recebido com otimismo pela comunidade internacional. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu a libertação “digna” de todos os reféns e defendeu um cessar-fogo permanente, além de apelar pela entrada imediata de ajuda humanitária em Gaza.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, afirmou esperar que o entendimento seja “um prelúdio para uma solução política permanente” e leve à criação de um Estado Palestino independente.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, descreveu o acordo como uma “grande realização diplomática” e uma “chance real de encerrar o conflito”. Na Europa, aliados e críticos de Israel também manifestaram apoio.
A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni classificou o anúncio como “extraordinário”, enquanto o presidente francês Emmanuel Macron disse esperar que o pacto abra caminho para uma solução duradoura. Já o chanceler alemão Friedrich Merz considerou as negociações “encorajadoras” e disse estar “confiante em um desfecho positivo”.
O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, crítico da ofensiva israelense, ressaltou que a comunidade internacional deve garantir que as “atrocidades vividas nunca se repitam”.
No Reino Unido, o premiê Keir Starmer elogiou os esforços diplomáticos “incansáveis” de Egito, Catar, Turquia e Estados Unidos, afirmando que o acordo representa “um primeiro passo crucial”. Ele ainda defendeu o fim imediato das restrições à ajuda humanitária em Gaza.
A Turquia agradeceu o papel dos EUA, com o presidente Recep Tayyip Erdogan elogiando a “vontade política” de Trump. A China, por sua vez, reiterou o apelo por um “cessar-fogo permanente e abrangente” e enfatizou que “os palestinos devem governar a Palestina”.
Com RFI