Ministro Ricardo Lewandowski aponta que substância pode ter origem em cargas abandonadas após ações contra o crime organizado; mais de 200 casos de intoxicação estão sob análise
Investigações consideram origem criminosa do metanol
O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta terça-feira (7) que a Polícia Federal apura se o metanol encontrado em bebidas adulteradas pode ter origem em cargas abandonadas durante operações contra o crime organizado. Segundo ele, nenhuma hipótese foi descartada, e há indícios de que organizações criminosas possam estar envolvidas nos recentes casos de intoxicação por metanol.
De acordo com o ministro, parte do material químico pode ter sido deixada para trás após a operação Carbono Oculto, que teve como foco o desmantelamento de esquemas de lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
“Essa é uma das linhas de investigação em curso. Há tanques e caminhões com metanol que foram apreendidos ou largados após as operações, e a hipótese é de que parte tenha sido desviada”, declarou Lewandowski.
Hipóteses distintas e cautela nas apurações
Lewandowski enfatizou que as apurações ainda estão em fase inicial e que nenhum cenário está sendo descartado.
“Se o produto veio dessas operações, seguimos um caminho. Caso tenha origem agrícola, a investigação segue outro rumo”, explicou.
O ministro também evitou citar nomes de facções específicas, ressaltando que o termo “crime organizado” abrange diversos grupos e estruturas criminosas, não apenas os de maior notoriedade nacional.
Divergência entre governos federal e estadual
A posição do governo federal difere da avaliação feita pelo governo paulista. Na segunda-feira (6), o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que não há evidências de envolvimento do crime organizado nas contaminações por metanol.
De acordo com Derrite, a principal linha de investigação no Estado aponta para a produção clandestina de bebidas que utilizam etanol de baixa qualidade, e não o desvio de metanol industrial.
Apesar disso, Lewandowski manteve a possibilidade de atuação de organizações especializadas nesse tipo de fornecimento ilegal.
“Pode haver organizações especializadas apenas em fornecer metanol para adulteração de bebidas. Isso também é crime organizado”, observou o ministro.
Fiscalização ampliada e grupo de monitoramento
O Ministério da Justiça informou que 15 estabelecimentos já foram notificados e outros 15 deverão ser chamados para prestar esclarecimentos sobre a procedência das bebidas comercializadas. O objetivo é rastrear a cadeia de fornecimento e reforçar a fiscalização em todo o país.
Após se reunir com representantes da indústria de bebidas, Lewandowski anunciou a criação de um grupo informal de acompanhamento das medidas de enfrentamento.
“Não é um órgão burocrático, mas um espaço de articulação entre governo e empresas para dar transparência às ações em andamento”, explicou.
Casos confirmados e alerta sanitário
Segundo o Ministério da Saúde, já foram confirmados 17 casos de intoxicação por metanol, enquanto cerca de 200 permanecem sob investigação. Duas mortes foram registradas em São Paulo, e outras 12 estão em análise.
Autoridades reforçam o alerta para que consumidores evitem bebidas de procedência duvidosa e denunciem suspeitas aos órgãos de vigilância sanitária.