É estranho pensar…
Vivemos cercados por milhões de pessoas, respiramos o mesmo ar, caminhamos pelas mesmas ruas… e ainda assim, tantas vezes, passamos como desconhecidos.
O mais curioso? Isso não acontece apenas em cidades distantes.
Acontece aqui, bem perto de nós.
Na rua em que moramos. No mercado da esquina. No próprio condomínio.
Cruzamos com alguém no elevador e, com um aceno rápido, seguimos sem imaginar a dor, a saudade ou a esperança que essa pessoa guarda no peito.
Cada ser humano que cruza nosso caminho traz consigo um universo escondido.
Alguns vivem cercados por lembranças, outros guardam silêncios cheios de saudade.
Há quem lute contra tristezas invisíveis.
Quem carregue cicatrizes que não aparecem na pele.
Quem esconda segredos tão profundos que, se revelados, nos fariam calar em reverência.
No fundo, somos todos tão parecidos.
Sonhamos.
Esperamos.
Desejamos o que ainda não chegou.
E, em alguns momentos, sentimos a vida perder o brilho, como se a chama que nos guia tivesse se apagado.
É nesses instantes que um gesto simples faz toda a diferença.
Um olhar atento. Um sorriso sem pressa. Um “bom dia” dito de verdade.
Parece pouco, mas não é.
Às vezes, é justamente esse detalhe que faz alguém se sentir visto.
Se sentir parte.
Se sentir humano outra vez.
Porque o que mais falta neste mundo não é dinheiro, nem tecnologia, nem tempo.
O que mais falta é presença verdadeira.
Estar diante do outro sem distrações, sem julgamentos, apenas com a clareza de um gesto silencioso que diz:
“Eu vejo você.”
E quando enxergamos o outro, descobrimos que nossas dores não são tão diferentes.
Que nossos medos encontram eco em outras almas.
Que, se abrirmos espaço, sempre haverá troca: de esperança, de coragem, de humanidade.
Talvez o segredo da vida esteja nesse gesto simples — lembrar que não caminhamos sozinhos.
Mesmo quando parece.
Mesmo quando o silêncio aperta.
A solidão pode até nos visitar, mas é a conexão que nos sustenta.
Ela se revela numa conversa curta, numa mão estendida, num abraço inesperado.
No fim, ninguém deseja apenas existir.
Todos queremos sentir que importamos.
Que deixamos marcas — não na poeira do caminho que logo o vento apaga, mas no coração de quem cruzou nossa estrada.
Então, que não nos falte coragem para sermos presença.
Que não nos falte ternura para olhar além da superfície.
Que não nos falte tempo para o que realmente importa.
Porque, no fundo, a vida é feita desses instantes em que dois olhares se encontram… e, por um breve momento, ninguém se sente invisível.
